Wagno Alves Bragança Pastor batista
Diretor da unidade do Colégio Batista Mineiro em Uberlândia- MG
INTRODUÇÃO:
Educar, no contexto da escola, não é uma tarefa fácil pelas implicações inerentes ao aluno, o professor, a família e a sociedade em geral. Esta dificuldade é ainda mais visível quando se trata da educação cristã, no âmbito da igreja.
Os valores, os padrões familiares e culturais, assim como a cultura da escola e do professor podem criar alguma tensão no processo de ensino-aprendizagem. Por outro lado, alguns preconceitos podem ser impeditivos de uma educação holística no âmbito da realidade humana individual e social. Ninguém pode esquecer que o homem é um ser de desejos porque tem em si uma fonte de energia que alimenta a sua vontade.
O processo educativo não se limita a certa fase etária ou estágio de desenvolvimento. Pelo contrário, percorre toda a vida do sujeito e tende para o futuro, ou seja, é intrínseco ao devir da pessoa humana. Neste processo de interação, que se pretende abrangente e globalizante, o equilíbrio é sempre uma meta a alcançar.
Nesta sequência pode perguntar-se o que é a educação?
A etimologia da palavra educação é significativa e reveladora de implicações para justificar o diálogo e a investigação como princípios metodológicos. O vocábulo educação provém fonética e morfologicamente de educare (conduzir, guiar, orientar), e semanticamente contém o conceito de educere (fazer sair, extrair, dar à luz) (VILLA, 2000 p.234) Acreditamos que este é o fundamento antropológico de toda educação: no princípio era o nada, no sentido do não concluído, do não dado, do não programado, ou no dizer de Paulo Freire, programado apenas para aprender. Daí ser a educação um fazer sair, extrair, dar à luz, em primeiro lugar a própria condição de humano. O homem é um ser biológico e é pela educação (cultura) que supera sua condição de primata. (MORIM, 2000, p.47) Portanto, a educação é um processo de libertação de nossa própria condição de ser puramente biológico. É na relação com o outro que nos humanizamos, visto que existir é coexistir.
Contudo, no contexto deste trabalho, partilho da etimologia e-ducere, “conduzir para fora de”. Este é um sentido primordial. A educação revela-se assim como algo dinâmico, um caminho, um itinerário que leva o sujeito de um lugar para outro. Neste sentido, o tema proposto para este debate tem tudo a ver com a educação: O Educador Cristão nas Trilhas de Minas.
Dissecando o tema:
1. O EDUCADOR
Educador: latim educāto,rōris, "o que cria, nutre; diretor, educador, pedagogo". Educatore ”Que, ou aquele que educa”
A palavra “educador” traz um conceito abrangente, e determina a pessoa que ensina através de ações práticas e reflexivas. São as ações práticas que levam a reflexão, e a reflexão transforma-se em novas práticas. Para Madalena Freire (Filha de Paulo Freire), não há distinção entre educador e professor. Ela diz que “educador é todo aquele que trava e constrói uma situação educativa; educador é aquele que ensina”.
Educador é alguém de desafio - O ser humano não escapa ao fato de ter que se situar num universo de fenômenos. Neste aspecto, surge a questão de sentido como o estabelecimento de uma ligação entre o homem, os outros homens e o mundo e o próprio Deus, por meio de valores socialmente reconhecidos. Trata-se de uma “religação” ou duma “realiança”. Esta realiança essencial e conscientizada abre as vias do conhecimento de si mesmo, a partir da qual podemos começar uma verdadeira discussão sobre o sentido da educação.
O educador não é simplesmente um ser de saber e de saber-fazer, um erudito, uma “caixa de fichas”. Ele é este ser consciente e lúcido, que se apóia sobre o conhecimento de si, experiencialmente assumido, para acolher o saber dos outros, em benefício da dúvida, e fazê-lo frutificar.
O educador é, deste fato, sempre potencialmente um ser de desafio antes de ser um ser de mediação. O conhecimento que ele possui de sua realidade virá provocar a “desordem estabelecida” e desafiar as novas descobertas, fazendo com que ocorra o movimento de saída para o encontro com outros saberes.
O educador é igualmente um ser de mediação - O educador, nesse campo, é necessariamente um mediador entre saber e conhecimento. Ele se torna, necessariamente, um facilitador do conhecimento, tomando a figura do mestre intelectual – aquele que sabe – da do mestre espiritual – aquele que conhece e sabe que ele não sabe. O educador dialetiza um modo de exploração do simbólico. Sua abordagem empurra-nos a dialética, ao confronto, à busca de novas experiências.
2. O EDUCADOR CRISTÃO
Ao referirmos ao Educador Cristão, nos confrontamos com o conteúdo da educação. Neste sentido, o Educador Cristão, é aquele que ensina valores e princípios cristãos. Assim, ele está comprometido com a verdade do Cristo. Para tanto, ele precisa:
2.1. Ter convicção de sua chamada - Ef.4.11-12
O EDUCADOR (CRISTÃO BATISTA) é uma pessoa chamada por Deus, confirmada pela igreja e preparada por uma instituição teológica-educacional reconhecida pela denominação batista, para atuação no ministério educacional da igreja
O chamado do educador cristão é deslumbrante: ”Levantarás os fundamentos de geração em geração e chamar-te-ão reparador de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável” Is 58.12.
2.2. Ser dedicado ao Ministério do Ensino – Rom.12.7b e Tt 2.7-8
Temos na Bíblia alguns termos que implicam em ações especificas, apontando para uma ação/divisão ministerial, com funções Ministério Evangélico, que o tornam excelente em seus objetivos, desempenho e resultados, as seguintes:
• Função profética ou “querística”, ou ministério da pregação;
• Função pedagógico-didática, ou ministério do ensino e da educação;
• Função litúrgica, ou ministério da adoração;
• Função poimênica, ou ministério pastoral;
• Função episcopal ou “kibernética”, ou ministério de supervisão, administração e liderança;
• Função “paraclética” e “noutética”, ou ministério de consolação, admoestação e aconselhamento;
• Função “koinônica”, ou ministério da comunhão;
• Função “diakônica”, ou ministério de mobilizar para o serviço;
• Função apologética, ou ministério de defesa da fé e da sã doutrina;
• Função evangelizante, ou ministério da evangelização.
Contudo, a área de atuação do Educador Cristão é a didascalia, ou ensino. Reconheço porém, que toda ação ministerial visa e objetiva o ensino, a instrução para que o homem seja aperfeiçoado segundo o modelo
3. NAS TRILHAS DE MINAS
Fonte:
• Pesquisa realizada pela Convenção respondida pelos pastores.
• Lista de alunos do STBM de 1973 a 2002.
• Cadastro da AECBMG.
• Resultado da Pesquisa de Campo:
o Igrejas que responderam à pesquisa-622
o Igrejas que não têm educador- 531
o Igrejas que têm educador-92
o Lista de Educadores-111
CONCLUSÃO
C á r c e r e d a s a l m a s
"Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!" (Cruz e Sousa)
Perguntamos: Não seria o educador cristão?
REFERÊNCIAS
ASSMAN, Hugo. (1997) Alguns toques na questão “O que significa aprender?” Impulso: Vol.10, 1997. N.º. 21.
_______ Metáforas novas para reencantar a educação. Piracicaba: UNIMEP, 2001
DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. Petrópolis: Vozes, 1993
_______Educar pela pesquisa. 2a ed. Campinas: Autores Associados,1997
_______Saber pensar. São Paulo: Cortez, 2001
DUSSEL, Enrique Domingos. Filosofia da libertação- crítica à ideologia da exclusão. São Paulo: Paulus,1995
_______ Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2001.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade e Outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976
_______ A educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976
_______ A Importância do ato de Ler. Cortez/ Autores associados, 1982
_______ Aprendendo com a Própria História . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987
_______ A Sombra desta Mangueira. São Paulo: Olho d’água, 1995
_______ Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Cortez, 1997
_______ Pedagogia da esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992
_______ Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975
MORIN, Edgar.Os setes saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000
VILLA, Mariano Moreno (direção) Dicionário de pensamento contemporâneo. São Paulo: Paulus, 2000