11/02/2014

tomando meu remédio 12 - balanço trimestral - caminhar é mesmo um bom remédio


Os profissionais da contabilidade fecham a cada mês suas contas para iniciar a administração do mês seguinte. Fecho com salto positivo, em experiência, o terceiro mês de caminhada pelas ruas de Belo Horizonte. Nesse quarto mês, o de novembro, terei resultados, provados por exames laboratoriais que espero confirmem o bem que estou sentindo.

Andei um pouco sumida das postagens devido às muitas tarefas, incluindo a elaboração de  52 desenhos para a revista Reflexões Bíblicas que será publicada nesse fim de ano com estudos bíblicos de autoria do Pr. Francisco Mancebo Reis e da professora Isabel Franco, que será distribuída pela Convenção Batista Mineira às Igrejas Batistas de Minas em 2015. O lançamento da mesma está agendado para 12 de dezembro, conforme banner abaixo.


Desenho digital - ilustrações de  dois dos estudos



Voltando ao assunto inicial, para aqueles que iniciaram comigo, eu caminhando e eles lendo sobre o meu caminhar, apresento  os resultados dos meus  esforços.
Início de Agosto 2014
Peso – casa dos 56kg
Glicose - 135
Km de caminhada diária (segunda a sábado) – 4km

Início de Novembro 2014
Peso – casa dos 54kg
Km de caminhada diária (segunda a sábado) – 8km.


Falta agora o resultado do exame da glicose  que será feito em meados de novembro. Diante dos resultados parciais, concluo mais uma vez que caminhar é mesmo um remédio.

9/22/2014

Presente num domingo de manhã


Recebi aquele presente em 21 de setembro de 2014. Era manhã de domingo. Uma daquelas manhãs de vento fresco e sol brilhante. Para recebê-lo teria que comparecer em certo local. Na chegada, o porteiro avisou:
--Dona Antônia está no velório três.

Subimos a alameda cercada de árvores e placas com partes de poemas de Carlos Drumond de Andrade.

Chegamos ao velório três. Um grupo de pessoas, não mais de vinte, reunidas em torno do esquife, ouvia atentamente, alguém que com uma bíblia aberta nas mãos, falava. O ambiente era simplesmente leve, intimista. Aquele que falava, entre muitas outras coisas, disse que D. Antônia já não sabia quem eram os filhos, os netos, ou qualquer outra pessoa. Não sabia sequer quem ela era. Mas que, o mais importante, era que, quem com ela convivia, sabia bem o seu valor. Falou do carinho com que foi cuidada pela filha Jane.

Uma emoção ainda desconhecida, ou talvez reprimida, começou a se apoderar do meu coração.
A palavra foi dada a outro, cujas primeiras frases foram de confissão. Disse que enquanto ouvia seu antecedente fazia uma reflexão sobre a própria história. Contou um pouco dela. Mais especificamente seu ponto de virada... Era sábado, 02 de novembro de 1974, dia dos mortos. Ele estava morrendo de overdose, aos 19 anos, em uma das praças da cidade de Belo Horizonte. Deitado na sarjeta, no auge de sua crise, lembrou-se dos muitos folhetos com mensagens bíblicas que havia recebido de algumas pessoas, acompanhados de palavras como: “Jesus te ama e pode transformar sua vida pra melhor”. Naqueles momentos de angústia diante da morte, no dia dos mortos, fez uma  oração:

-- “Deus, por favor, não me deixe morrer, pois se eu morrer agora irei pro inferno”.

Recuperado da crise foi para casa e do fundo da gaveta recuperou os folhetos ali guardados. Leu tudo. No dia seguinte, manhã de domingo, aprontou-se e saiu rumo a uma igreja. Ao entrar, o Coro da mesma estava à frente cantando. Extasiado com a beleza o jovem só pôde exclamar:

-- “Deus, por que o Senhor não me salvou há mais tempo”?

O filho José, usando de empréstimo a Bengala de Jane, foi à frente e falou palavras bonitas sobre a mãe, incluindo a primeira e a última frase do poema que lhe fizera no último aniversário. Pena que pela falta de memória não posso compartilhá-las.

Uma jovem bonita iniciou uma música, com a introdução de que D. Antônia dela muita gostava. Cantou suave a primeira estrofe, mas na segunda a emoção tomou conta do lugar e a jovem, sem voz, somente chorava seu choro silencioso. Nesse momento os funcionários do cemitério chegaram para levar o corpo. Eliseu um dos netos sugeriu:

-- Vamos fazer a última oração e encerrar.

Com voz recuperada, a jovem recomeçou o canto . No fim dele, Eliseu, convidou aos presentes que dessem as mãos uns aos outros e orou, As lágrimas rolaram pelas faces, inclusive pelas minhas.


É difícil acreditar, mas participar do velório de D. Antônia foi um dos melhores presentes que já ganhei na vida. 

9/16/2014

O sotaque das mineiras . Carlos Drummond de Andrade

Recebi por e-mail o texto do Carlos Drumond de Andrade falando dos sotaques,  ele diz das mineiras, acho que fazendo uma média conosco, mulheres mineiras. Mas esse lindo sotaque é de todos os que vivem entre as montanhas de Minas. 

Então pra você dar umas boas risadas.... aí vai! 
Tenho de confessar... chorei de rir.

"O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar lindo (das mineiras) ficou de fora?
Porque, Deus, que sotaque!
Mineira deveria nascer com tarja preta avisando:
ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso?
Assino achando que ela me faz um favor.
Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.
Preferem abandoná-las no meio do caminho, não dizem:
pode parar, dizem: 'pó parar'.
Não dizem: onde eu estou?, dizem: 'ôncôtô'.
Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem linguisticamente falando, apenas de uais, trens e sôs.
Digo-lhes que não.
Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade.
Fala que ele é bom de serviço.
Pouco importa que seja um juiz ou jogador de futebol.
Mineiras não usam o famosíssimo 'tudo bem'.
Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra:
- 'Cê tá boa?'.
Para mim, isso é pleonasmo.
Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário.
Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada.
Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer:
- 'Mexe' com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc.).
O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados..
Quer dizer, por exemplo, trabalhar.
Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido.
Querem saber o seu ofício.
Os mineiros também não gostam do verbo conseguir.
Aqui ninguém consegue nada.
Você não dá conta.
'Sôcê' (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz:
- 'Aqui', não vou dar conta de chegar na hora, não, 'sô'.
Esse 'aqui' é outro que só tem aqui.
É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase.
É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção.
É uma forma de dizer:
- Olá, me escutem, por favor.
É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.
Mineiras também não dizem apaixonada por.
Dizem, sabe-se lá por que, 'apaixonada com'.
Soa engraçado aos ouvidos forasteiros.
Ouve-se a toda hora:
- Ah, eu apaixonei 'com' ele...
Ou: Sou doida 'com' ele (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro).
Elas vivem apaixonadas com alguma coisa.
Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe.
É um tal de 'bonitim', 'fechadim', e por aí vai.
Já me acostumei a ouvir:
- E aí, 'vão?'. Traduzo:
- E aí, vamos?
Não caia na besteira de esperar um 'vamos' completo de uma mineira.
Não ouvirá nunca.
Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira.
Nada pessoal.
Aqui certas regras não entram.
São barradas pelas montanhas.
Por exemplo, em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer:
- Eu preciso 'de' ir.
Onde os mineiros arrumaram esse 'de', aí no meio, é uma boa pergunta.
Só não me perguntem. Mas que ele existe, existe.
Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório. Deixa eu repetir, porque é importante.
Aqui em Minas ninguém precisa ir a lugar nenhum.
Entendam...
Você não precisa ir, você precisa 'de' ir.
Você não precisa viajar, você precisa 'de' viajar.
Se você chamar sua filha para acompanhá-la ao supermercado, ela reclamará:
- Ah, mãe, eu preciso 'de' ir?
No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um 'tanto de coisa'.
O supermercado não estará lotado, ele terá um 'tanto de gente'.
Se a fila do caixa não anda, é porque está 'agarrando' lá na frente.
Entendeu?
Agarrar é agarrar, ora!
Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena,  suspirará:
- 'Ai, gente, que dó'.
É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras.
Não vem 'caçar confusão' pro meu lado.
Porque devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro 'caça confusão'.
Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele 'vive caçando confusão'.
Para uma mineira falar que algo é muitíssimo bom vai dizer:
- 'Ô, é sem noção'.
Entendeu?
É 'sem noção!
' Só não esqueça, por favor, o 'Ô' no começo, porque sem ele não dá para dar noção do tanto que algo é sem noção,
entendeu?
Capaz...
Se você propõe algo ela diz:
- 'Capaz'!!!
Vocês já ouviram esse 'capaz'?
É lindo.
Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer 'ce acha que eu faço isso!?'
Com algumas toneladas de ironia...
Se você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá:
-'Ô dó dôcê'.
Entendeu?
Não?
Deixa para lá.
É parecido com o 'nem...'.
Já ouviu o 'nem...?
' Completo ele fica:
- Ah, 'nem'...
O que significa?
Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum.
Você diz:
- Meu amor, 'cê' anima 'de' comer um tropeiro no Mineirão?
Resposta:
- 'Nem...'.
Ainda não entendeu?
Uai, nem é nem.
A propósito, um mineiro não pergunta:
- Você não vai?
A pergunta, mineiramente falando, seria:
- 'Cê' não anima 'de' ir?
Tão simples.
O resto do Brasil complica tudo.
É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem...
Falando em 'ei...'.
As mineiras falam assim, usando, curiosamente, o 'ei' no lugar do 'oi'.
Você liga, e elas atendem lindamente:
- 'Eiiii!!!', com muitos pontos de exclamação, a depender da saudade...
Tem tantos outros...
O plural, então, é um problema.
Um lindo problema, mas um problema.
Sou, não nego, suspeito.
Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.
Aliás, deslizes nada.
Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão.
Se você, em conversa, falar:
- Ah, fui lá comprar umas coisas...
- 'Que' s coisa?' - ela retrucará.
O plural dá um pulo.
Sai das coisas e vai para o que.
Ouvi de uma menina culta um 'pelas metade', no lugar de 'pela metade'.
E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa,confidenciará:
- Ele pôs a culpa 'ni mim'.
A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas.
Ontem, uma senhora docemente me consolou:
'preocupa não, bobo!'.
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se espantam.
Talvez se espantassem se ouvissem um: 'não se preocupe', ou algo assim.
A fórmula mineira é sintética.
E diz tudo.
Até o tchau, em Minas, é personalizado.
Ninguém diz tchau pura e simplesmente.
Aqui se diz: 'tchau pro cê', 'tchau pro cês'.
É útil deixar claro o destinatário do tchau.
Trem bão também demais sô...."

9/06/2014

Tomando meu remédio 11 - A quarta semana




Estou fechando a quarta semana de compromisso comigo mesma de caminhar e escrever. Quem está acompanhando esta série de crônicas chamada “Tomando meu remédio”, sabe do que estou falando. Para quem não sabe, terei prazer em explicar. O fato é que por uma questão de saúde fui obrigada a mudar de atitude e  iniciar o hábito de caminhar ao sol. Isso devido a alta de glicose e baixa de vitamina D no meu corpo. Querendo dar um sentido a mais a essa atividade iniciei o registro de fatos interessantes observados no período das minhas caminhadas.

Tenho de admitir os vários benefícios experimentados nessas quatro semanas:
Pude ver coisas lindas como um velhinho regando um canteiro de flores em uma  esquina e uma jovem mãe ensinando a filhinha a atravessar a rua. Achei sua  lição um tanto dura, quando a ouvi perguntar pra filha:
-- você quer morrer esmagada por um carro?
E como a menina,  calada olhava assustada pra a mãe, a mesma repetiu:
-- me responda! Você quer?
A criança, com cara de choro respondeu:
--Nãooooo.
E nesse momento a mãe toda orgulhosa deu a lição final:
-- Então só atravesse a rua quando o bonequinho estiver verde.

Vi um idoso de 77 anos dar entrevista a um grupo  de estudantes no Parque Municipal, e depois pude acompanhá-lo na leitura de seu livro grosso e antigo, todos dias no mesmo banco, fazendo suas anotações com uma caneta azul nas bordas do mesmo. Pude conjecturar quanta sabedoria escondida naquela cabeça e oque acontecerá com aquele livro quando  o velhinho se for. Muitos familiares doam bibliotecas inteiras de velhinhos sabidos sem sequer folhear seus livros e ler suas anotações. Espero que isso não aconteça com os seus livros.
Vi mendigos cuidando dos seus cachorros com muito carinho. Vi moças, rapazes, homens e mulheres passeando com seus cães e esperando pacientemente que marcassem o território com suas mijadinhas em cada poste.

Também pude apreciar os cheiros da cidade. No parque pude sentir o cheiro de suas flores,  de sua grama molhada, das águas do lago dos barcos e nas ruas pude sentir o cheiro  de tempero vindo das cozinhas das casas.

Mas também vi coisas não tão  lindas e senti cheiros não tão bons. Vi um grupo de mendigos com seus rostos inchados  deitados na calçada da rua da Bahia e senti o cheiro de aguardente vindo de suas garrafas. Senti o cheiro fétido de urina humana nas pilastras dos viadutos. Vi jovens encostados em muros, fumando, e senti o cheiro de seus baseados.

Foram quatro semanas de aprendizado, de novas experiências de vida pulsando dentro e fora de mim. Além de tudo isso,  pude sentir meu corpo mais leve e mais fino, podendo com alegria resgatar novamente para o armário, peças de roupas, que por estarem apertadas foram guardadas e que por muito amá-las  não tive  coragem de coloca-las nas sacolas de doações.


Por todos esses fatos vistos e esses cheiros sentidos, celebro com alegria o fechamento das primeiras quatro semanas da minha nova experiência em viver melhor.

9/03/2014

Tomando meu remédio 10 - Vai uma balinha aí?


Geralmente quem nasce e cresce em  Minas Gerais pega o costume de usar as palavras no diminutivo, e ainda omitindo letras no final. Assim temos a mania de nos referir a algo que seja pouco, de pouquim, que seja pequeno, de pequeninim e assim vai.

Pois bem, estava eu em fim de caminhada, aquela que estou aprendendo a fazer todos os dias por recomendações médicas. Passava pelo calçadão da Sapucaí, que não é a Marquês de Sapucaí do Rio,  mas a Sapucaí de Belo Horizonte. Bem perto da escada que desce para a estação Central Ferroviária estava uma mulher com uma caixinha de bala halls. Ao me avistar pegou um dos pacotinhos, o preto, o mais forte, me perguntando:
-- Vai uma balinha aí querida?
--Obrigada! Hoje não. – Doida pra comer uma bala apesar da glicose alterada.
Parecendo ler meu desejo pelo olhar a moça insistiu:
--É só um realzim minha boneca!

Continuei a caminhada um pouco mais feliz, rindo sozinha pela calçada.
Um real é sempre um real. Não existe um real menor ou maior do que outro. Mas o mineiro tem que diminuir o "um real". Como também diminui o minuto. E cá prá nós, quando alguém diminui os minutos pode esperar que na realidade serão aumentados. Outro dia levei um serviço na gráfica e a atendente após examinar o material me disse:
-- fica pronto em 20 minutinhos.
Sabendo que vinte minutinhos de mineiro se esticam em mais trinta, saí para dar uma volta. Retornei à gráfica em 40 minutos e o serviço ainda não estava pronto.

Para quem não é mineiro fique atento com os minutinhos. Pois eles nos fazem esperar muito.



8/30/2014

Tomando meu remédio 9 - Quando as palavras não significam o que representam



        Na minha caminhada diária, que aconselhada pela endocrinologista, chamo de “meu remédio”, estava eu no calçadão da Avenida Afonso Pena. Quando de repente uma moradora de rua veio em minha direção e disse:
- Bom dia!
- Bom dia! -Parei e respondi.
Ao que a moça, estendendo seu braço direito num gesto de me empurrar para o lado, só não o fez porque saí do seu caminho, disse:
- Não é com ocê.- E passou por mim apressadamente.
Olhei para trás e ela estava pedindo dinheiro a uma senhora, logo atrás de mim, arrumada e com sua bolsa tiracolo.  Também, pudera, eu estava com roupa de caminhar, com apenas uma chave na mão.

Fiquei toda sem graça e continuei meu caminho, pensando no significado das palavras e frases. Nem sempre a frase “bom dia” representa o desejo do outro que seu dia seja bom. Em algumas lojas, por exemplo, quando pomos os pés na porta, um vendedor ou vendedora nos diz em voz alta: “bom dia”. Mas esse “bom dia” serve apenas  para marcar sua vez no atendimento aos clientes, que é feito por rodizio entre os vendedores.


Durante a caminhada no Parque Municipal vejo alguns  caminhantes desejarem “bom dia”. 

Agora me pego olhando para trás antes de responder, para me certificar se o “bom dia” é mesmo dirigido a mim. 

8/28/2014

Tomando meu remédio 8 - O motoqueiro da rua Maranhão.

      Mais uma manhã de caminhada. Depois de circular o lago dos barcos no Parque Municipal de Belo Horizonte, que fica no centro da cidade, estava eu na Rua Pouso Alegre. De repente um motoqueiro parou ao meu lado, tirando o celular do bolso.
__ Alô! __ atendeu ao telefone.
__ Eu tô na Rua Maranhão, na Santa Efigênia.
Assustada,  olhei para um lado e depois para outro, como o caipira da piada, perdido no centro da cidade grande que exclama:
__ Onque eu tô. Donque eu vim. Pronque eu vô. Quem que eu sô!  - tô na Maranhão ou na Pouso Alegre?

Então fiquei me lembrando, pelo resto do caminho até em casa, de vários episódios em que vi alguém mentir descadaramente. Um deles foi quando minha família estava vendendo um apartamento. A corretora levou uma pessoa interessada. Após mostrar todos os cômodos, ao se despedir disse-me:
__ Amanhã depois do almoço vou trazer outra pessoa interessada.
Cancelei meu compromisso e fiquei a espera... Dias se passaram. Então a corretora ligou para agendar outra visita e eu logo disse:
__ Escuta, você falou que traria uma cliente, cancelei meu compromisso e você não veio.
Foi aí que ela quis me dar uma lição de vida.
- Você não entende! Eu falei aquilo só pra cliente ver que tem mais gente interessada no apartamento.
Oh! Por que ela foi fazer aquilo! Eu fiquei muito brava com ela.
Outro episódio foi no Parque Municipal. Estava passando e sem querer, ouvi a conversa de um senhor que estava sentado em um dos bancos tomando sol. Ao telefone ele disse a seguintes frase:
__ Ó, eu só vou poder fazer seu serviço à tarde, porque agora eu tô aqui em Betim resolvendo umas coisas.
Eu pensei:
- Que descarado! Ele está tomando sol no Parque!
A mentira está mesmo muito presente. Até mesmo em alguns estabelecimentos,  com lanchonetes e restaurantes. Em alguns deles  quando os clientes pedem nota do que gastaram para apresentarem às suas empresas eles tem coragem de perguntar:
- De quanto quer a nota?

Na verdade a corrupção está solta. Aqui, lá, em todo lugar.

8/27/2014

Tomando meu remédio 7 - Os mendigos e seus cães




Já ouvi dizer que os cães se apegam aos seus donos, e os gatos se apegam às suas casas.  Deve ser por isso que existe o ditado: “o cachorro é o melhor amigo do homem”. Se verdade ou não, nunca vi gatos nas cabanas que os moradores de rua armam nas calcadas das cidades, mas já vi muitos cães que os acompanham. E por causa deles enfrentam situações complicadas.

Tive um vizinho, morador de rua, que armou sua barraca de lona em um lote vago ao lado de minha moradia. E por várias madrugadas pudemos ouvir seus gritos chamando por seu cachorro:

__ Totó! Ô Totó! Vem cá.

Fato que muito me surpreendeu foi o que ocorreu em um fim de tarde, quando ouvi conversas estressadas vindas do tal lote. Ao chegar à janela vi uma cena interessante. Umas dez pessoas entre homens e mulheres, todos jovens, gritando com o morador do barraco, palavras acusatórias de que ele estava maltratando o cachorro. Que se ele não parasse de bater no cãozinho, iam denunciá-lo por maus-tratos.  Quanto mais o rapaz tentava explicar que não batia no cachorro mais os jovens se alteravam.

Fiquei parada, olhando a cena, quando três dos homens pularam em cima do rapaz, dando-lhes socos e um empurrão no peito, jogando-o com as costas no chão. Preparei-me para chamar a  polícia. Vendo que ficaram  calmos, desisti.


Veja só o contrassenso! Suponhamos que o cara tenha batido no cachorro. Mas isso justifica três homens bater nesse cara? Não estaria a preocupação exagerada com os direitos e proteção do animal, fazendo-os desrespeitar os direitos do ser humano?

8/25/2014

Relembranças 2 - Essas mulheres maravilhosas e seus PEITOS ENORMES



Quando em crescimento e aonde cresci as mulheres mães de bebês amamentavam-nos em público, sem sequer jogar uma toalhinha ou fralda sobre seu peito. Aquele era um momento sublime, quase um ritual, quando enfiavam a mão sob o decote, deslizando-a sobre o peito e ao chegar na parte inferior do mesmo o levantava. E com a ajuda da outra mão que puxava a roupa, colocava a mostra aquele peito recheado de leite.  Nas igrejas durante as missas ou cultos podia-se ver o desfile de mães orando, cantado e amamentando... Eram  Peitos marrons, pretos e brancos. Os que  eram brancos ficavam até rosados, exibindo veias entrelaçadas no seu contorno arredondado daquilo que era uma maravilha pra mãe e pra filho.

O ato da amamentação no peito era comum e natural. As meninas brincavam de casinha e em suas casinhas serviam umas as outras, café, comida e também imitavam as mulheres mães amamentadoras, colocando ao peito ainda não desenvolvido, futuro armazenamento de leite, suas bonecas, de pano, de sabugo de milho, de porcelana, de papelão.

Os peitos de uma mulher amamentadora eram vistos de uma forma diferente. Eram envolvidos em um simbolismo e um significado, que  pouco a pouco foi sendo modificado. E um dia, quando eu já não estava mais lá, soube de um fato ocorrido em uma das igrejas da cidade. Uma religiosa saída de Salvador ao chegar à cidade, em um dos cultos de sua igreja  teve a infeliz iniciativa de se levantar de seu lugar caminhar entre os bancos e colocar um lenço sobre o peito de uma jovem mãe que amamentava seu bebê. O triste é que  ela nunca mais voltou a igreja. O mais triste é que a comunidade não se pronunciou e o puritanismo farisaico (se é que existe isso) venceu.
O tempo passou e me tornei mãe. Experimentei o que existe de mais emocionante no mundo: tirar o peito, lindo redondo e enorme; expô-lo ao mundo e coloca-lo na boca do bebê... Pouco a pouco sentir o leite correr pelos canais e explodir, às vezes com tanta força que a cara do bichinho ficava toda molhada. Nesse momento a boca secava e eu precisava desesperadamente de um copo d’água. Somado a  esse prazer estava o fato de ver dia a dia a criança se desenvolvendo com o alimento saído do meu corpo. Era um mistério e um milagre.

Muitos homens e mulheres viram meus peitos e nunca me preocupei se estava por perto algum “tarado”. Porque amamentar em público, mostrando o peito, era algo cultural pra mim. Parece que o contrário acontece nas capitais, pois nunca vi na capital onde fui mãe e até hoje moro, uma mulher tirar o peito e amamentar em publico. Mas já vi muitas saírem com o bebê aos gritos e se esconderem em alguma sala para amamentar. As mais ousadas tiram o peito por baixo da blusa e não pelo decote. Para mamar, o bichinho tem que aguentar uma roupa incomodando seu rosto o tempo todo.

Como mulher e como mãe  acho que mães e bebês devem ter a liberdade de exibirem seus peitos: elas porque são a fonte do melhor alimento do mundo. Eles por tê-los como sua propriedade, nesse período de suas vidas e pelo privilégio de terem nascido de uma mãe saudável física e emocionalmente.

8/22/2014

Relembranças 1 - A moça de Mutum e o cowboy de Aimorés



Era tarde de sábado na cidade de Aimorés estado de Minas Gerais. Um sábado qualquer, de um mês qualquer, de um ano triste. Todos os sábados pareciam iguais. Ela saía de Resplendor, no trem Rápido, descia em Aimorés e tomava um ônibus para Mutum. Na segunda-feira fazia o caminho inverso. Em Resplendor, cuidava da mãe doente, estudava as matérias do seu curso à distância, chorava seu amor perdido. Tudo isso fazia daquele ano, um ano triste.

Apesar de todos os seus sábados parecerem iguais, aquele foi diferente. Ao chegar à estação ferroviária em Aimorés, atravessou a praça central até o bar  que era uma espécie de rodoviária. Chegou a cara no buraco do vidro e pediu:
- Uma pra Mutum.

Olhou o papel colado no vidro, descobrindo o aumento da passagem ocorrido naquela semana. Pediu que a moça esperasse um pouco antes de destacar a passagem. Conferiu seu dinheiro. Ele não dava para a viagem.

Saiu do local cabisbaixa e atravessou novamente a praça, como se estivesse carregando sobre os ombros a tristeza de todos os habitantes da terra. Não tinha ideia do que fazer! Sentou-se em um dos bancos. Revirou a bolsa mais uma vez na esperança de achar algum dinheiro solto em algum compartimento da mesma. Tempo perdido, não encontrou nada. 

Contou novamente as cédulas e as moedas. Nenhuma delas havia dado cria. Colocou-as no bolso do jeans desbotado.

Caminhou até a estação, à procura de alguém conhecido que pudesse lhe socorrer. A estação estava deserta. Voltou à praça, sentando novamente no mesmo banco. Seus pensamentos giravam desconexos. A única coisa sóbria que lhe vinha a mente era a frase:

- Deus mande alguém pra me socorrer! Tem que ser agora Deus, porque senão o ônibus parte.

Com a cabeça  baixa e as mãos na testa ali ficou à espera do milagre. Foi quando viu um par de botas em pé à sua frente. Seus olhos ficaram fixos. Depois pouco a pouco foi vendo parte a parte aquela figura impoluta. Primeiro a calça jeans Lewis. Depois, a fivela grande e prateada do cinto com a figura de um cavalo.  Viu a camisa xadrez de vermelho, o rosto másculo e bonito emoldurado com um chapéu de couro. Parecia a perfeição em forma de homem. 

Com voz mansa lhe falou.
- Posso me sentar?
- Oh sim! Claro! – Respondeu a moça no grau extremo de sua timidez.

A conversa foi iniciada. Ele falou de música, de rádio. Era de Belo Horizonte, mas estava em Aimorés, trabalhando na rádio e cantando música sertaneja.

- E você, o que faz aqui? – perguntou com ar simpático.
A moça iniciou sua história recente. Após contar seu drama, ele abriu a carteira retirou uma cédula e lhe estendeu:
- Vá lá e compre sua passagem.

Ela saiu apressada rumo ao guichê. Não antes, de fazê-lo prometer que a esperaria ali para receber o troco.

Ao voltar o banco estava vazio. Ele havia sumido. Olhou por todos os lados, mas não o encontrou. Nem pôde agradecê-lo!

Mais de trinta anos são passados. E eu, a moça de Mutum agradeço sempre a Deus a sua vida  e minha prece nesse tempo todo é a mesma:


- Deus, se ele ainda estiver vivo, estende tuas mãos de bondade e misericórdia sobre ele, o anjo cowboy, que o Senhor usou para me socorrer, naquele sábado triste em Aimorés.


8/19/2014

Tomando meu remédio 6 - Anúncio na faixa

Na volta para casa, da caminhada de mais uma manhã, mudei de rumo na esperança de encontrar material para mais um crônica. Depois de subir a ladeira, redundância para quem mora em Belo Horizonte que, segundo uma paulista, aqui a gente não anda   sobe e desce morro, virei à esquerda e lá estava o que precisava: uma faixa anunciado  um curso de reciclagem.  

Pus-me imediatamente a pensar no assunto. Como é sabido, reciclagem é o processo de transformação de materiais usados, em novos produtos com vista à reutilização. É um termo que tem sido cada vez mais utilizado como alerta  para a importância da preservação dos recursos naturais e do meio ambiente.

Vendo melhor a placa pude identificar, para qual material era o tal curso. Reciclagem de condutor...

Para essa última palavra me veio a mente condutor elétrico, descobrindo em seguida que não se tratava desse tipo de condutor, mas sim de condutor infrator.




Alguns condutores infratores certamente são possíveis de serem reciclados, para preservação de suas vidas e daqueles que se põem em seus caminhos. Mas alguns outros só mesmo levando para o aterro sanitário.

8/18/2014

Tomando meu remédio 5 - Todas as velhinhas merecem ser elegantes




Dá gosto ver uma velhinha elegante. D. Sinhá, por exemplo, é lindamente elegante. Aos 100 anos exibia simpatia e cordialidade. Passou horas da sua festa sentada para ser fotografada com quem desejasse. Deu entrevista à rádio Itatiaia e ganhou de presente uma visita à cidade do Galo - Clube Atlético Mineiro, time do coração, com direito a foto com os jogadores e matéria no Estado de Minas.




Hoje com 103 anos se recupera  de mais uma fratura fruto de mais uma queda. Mas não é que a danadinha já esta ficando em pé sozinha e outro dia deu 5 passos? Além de elegante tem uma facilidade e se recuperar que é incrível. Gosto de ser sua amiga e usufruir de seu senso de humor e otimismo.





Mas existem aquelas mulheres que, infelizmente, com a chegada da idade, chega também uma espécie de síndrome do “qualquer coisa tá bom”. Então, se tinham os cabelos pintados começam a deixar aquelas raízes brancas horríveis. E como se não bastasse começam a calçar meia fina tamanho ¾ com saia. Aquelas que enquanto se está em pé, está elegante, mas basta sentar-se que a saia sobe e os olhos da gente caem sobre aquela coisa feia. Todas as vezes que vejo uma cena dessas falo em silêncio pra mim mesma:
__Se Deus me der vida até ficar velhinha nunca vou usar meia fina ¾ com saia.

Mas hoje o inacreditável aconteceu. Vi uma velhinha linda com cabelos de neve, roupa apresentável em tons pastéis. Mas lá estava a meia. Não! Não era a meia fina. Era pior que isso! Era uma meia social masculina na cor marrom.
Diante de tal cena a única coisa que pude dizer a mim mesma foi:

__ Todas as velhinhas merecem ser elegantes. 

Mas, infelizmente poucas conseguem.

8/17/2014

Tomando meu remédio 4 - Com que roupa?

Muito conhecida é a música de Noel Rosa com este título. A história diz que, sendo o filho amante da vida noturna, e tendo a saúde frágil, sua mãe escondeu todas as suas roupas para que ele pudesse ficar em casa e descansar um pouco,  pois a cada dia via que ele estava um pouco mais magro.

Aproveitando a situação Noel compôs a referida música. Artista é assim, faz das situações difíceis, arte, tornando-as inesquecíveis.

E por falar em roupa, quando se sai para caminhar vê-se de tudo: Senhoras, caminhando com calça jeans, velhinhos com roupa social, jovem com sombrinha aberta.




Mas o incrível mesmo, foi encontrar, em plena Avenida Assis Chateaubriand, várias peças de roupas dependuradas em árvores. Acreditem, ou não, vi isso. Mudei o rumo do caminho só para observar de perto. E qual não foi minha surpresa! Havia um cartaz escrito  com letras grandes: “Moradores de rua está muito frio aí fora. Pegue um desses”






Fiquei muito admirada com o gesto e fã da pessoa que teve a ideia. 

8/16/2014

Tomando meu Remédio 3 - Caminhar não é só remédio - é também presente


Um dos homens conhecidos da história, que entregou seu trabalho e sua vida à divulgação dos ensinos de Jesus Cristo, foi Paulo, o Apóstolo. Na coleção de 66 livros - A Bíblia,  estão registradas 13 cartas escritas por ele às várias igrejas cristãs organizadas no período de seu ministério. Em uma delas, quando já velhinho, ele escreveu: “combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”. Longe de fazer qualquer comparação com Paulo, digo: completei meu compromisso comigo mesma, caminhei de segunda a sábado. E o mais importante, estou mais feliz que antes. Mais feliz, não só porque meu corpo está mais leve, mais ágil, mais saudável. Estou mais feliz, também, porque meus olhos e ouvidos ganharam alguns presentes nestes dias. Um deles, foi ouvir o sotaque, mais mineiro, dos últimos meses. A velhinha contando suas moedas chega à banca de revista e diz ao vendedor:

__ Minino, mas que fri é esse?
Ao que, todo animado, o rapaz responde:
__ Nossinhora! Esse é o verdadeiro vento de agosto!


Outro foi ver uma senhora com os cabelos pintados de vermelho. Como ela estava linda! Sem aquela afetação de mulher de meia idade que quer parecer adolescente. Ela Vestia roupa de senhora. Andava como uma senhora. Só tinha os cabelos pintados de vermelho. 
Como desejei conhecer sua história.

E outro foi ver um velhinho regando um canteiro de flores na rua Sapucaí.




É claro que recebi  outros presentes para minha existência... Tão caros e tão raros que serão compartilhados um a um em uma crônica específica.

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8/14/2014

Tomando meu remédio - 2 - Susto na foto


Praça da Estação - BHMG

Minhas últimas noites têm sido povoadas de sonhos ruins, mais para pesadelos. Acho que fruto da vivência de tristezas, guerras, tragédias e violência que, mesmo longe fisicamente, estão mais próximas do que imaginamos.
Mas como não vale a pena descrever minuciosamente meu último sonho, mesmo sendo ele interessante na sua estrutura, vou falar de uma experiência vivida em uma de minhas caminhadas pelas ruas e praças de Belo Horizonte.

Para ser sincera, como gosto de ser, tenho medo de ser assaltada na rua. Então saio com o mínimo possível de acessórios que chamem atenção daqueles que acalentam a filosofia do “que é seu é meu”. Daqueles que não podem ver algo com alguém que logo querem pra si, e para isso tomam da pessoa.

Sair de relógio, nem pensar! Desde o dia em que, num reflexo inacreditável, dei um soco no pé do ouvido do assaltante e ele rodou de tonteira. Nunca mais usei relógio! É claro que o assaltante era um adolescente! Daqueles que saíam em bando pelas ruas do centro de BH fazendo terrorismo com os transeuntes. Pois é, dei de cara com um... Estava usando o relógio  no braço direito. Quando fui consertar a bolsa que estava no ombro esquerdo, o danado voou no meu braço enfiando os dedos entre ele e a pulseira do relógio. Como o meu braço estava junto ao peito, foi só fechar a mão e derriçá-la na cara do sujeito. Meu Deus! Que vergonha! Bom, fazer o quê? Pedir desculpa pro carinha? O certo é que  minha cara queimou. Um rapaz que estava também no ponto de ônibus olhou assustado, dizendo:

__ Nossa moça você é brava!

Tive outras aventuras parecidas. Uma dentro da minha própria casa quando fiquei cara a cara com o ladrão que levou meu notebook que,  ainda nem tinha acabado de pagar.

Deixando de lenga lenga e indo direto ao assunto, estava eu caminhando, quando cheguei à Praça da Estação . O celular no silencioso, escondido no bolso da blusa. Quando de repente meus olhos caíram sobre as flores de uma árvore bem no centro da praça. Olhei de um lado e outro, parecendo uma policial, verificando se havia por perto alguém suspeito. Achei que não. Meti a mão no bolso e com a rapidez que pude, liguei o bichinho, direcionando-o para a árvore  a fim de dar o clik e escondê-lo novamente. 
Exatamente nesse momento ouvi atrás de mim uma voz dizendo:

__ ô moça!

O susto foi tamanho que dei um grito! O cara se assustou também e eu ri meu riso amarelo pro seu lado pedindo desculpa. Foi então que, me pediu dinheiro. Enquanto  ouvia sua história de que morava na rua e precisava comprar um pão pro seu café da manhã, e que não era ladrão, fui observando aquela figura exótica à minha frente.
Estava ele limpo vestido de calça Jeans, camisa floral amarrada com um nó à frente exibindo sua enorme barriga. As unhas pintadas na cor rosa, no pescoço um colar de metal bem trabalhado, os cabelos presos em um coque daqueles usados pelas mães de antigamente na fase dos 60 anos. Seu rosto estava rosado pelo calor do sol lindo e brilhante.

O cara acreditou que eu não tinha dinheiro. Acho que é porque estava com roupa de caminhar. Me falou coisas bonitas, me desejou um bom dia, boa sorte e “vai com Deus”.

Continuei a caminhada com a cabeça repleta de pensamentos esquisitos. Não antes, de olhar pra trás para vê-lo uma última vez.

Como gostaria de ter fotografado o cara! 

Tomando meu remédio –1


Chega uma época na vida das pessoas que o exercício físico deixa de ser uma opção saudável e vira uma necessidade, um remédio, como dizem alguns médicos. Mas para muitos, na verdade, vira um pesadelo.
Eu que, desde 2001, venho, ano após ano, ouvindo a mesma frase: “pra você exercício não é uma opção e sim uma necessidade”, até agora encarei o fato como um pesadelo.
Depois de todo esse tempo, resolvi parar de sofrer com a ideia de perder, ou gastar, todos os dias, mais ou menos duas horas com o tal exercício físico. Você pode estar argumentando: mas a recomendação não é fazer exercício durante duas horas! Eu argumento de cá que, entre o preparo para a saída, a chegada ao local, o tempo do exercício, a volta para casa, o banho... Até o retorno às atividades rotineiras lá se vão duas horas ou quase isso.
Mas para a saúde não importa o tempo investido. O que importa é o resultado. O que importa é o que uma boa caminhada faz no nosso corpo e na nossa mente.  Então eu que, quero viver bem e conhecer os meus netos, resolvi renunciar algumas atividades para tomar “meu remédio”, ficar boa física, intelectual e psicologicamente, e acima de tudo, parar de levar bronca dos médicos.

Como reforço para minha decisão, e para vencer o pesadelo, resolvi criar um compromisso comigo mesma: registrar as experiências vividas nas minhas caminhadas.

Assim nasce a série: Tomando meu remédio.

6/25/2014

OS “AMARELINHOS” DA TRANS COPA DÃO UMA NOVA CARA AO MINEIRÃO



Estas são palavras da coordenadora do projeto Trans Copa BH, Lizete Perrucci. Os “amarelinhos” são voluntários vestidos com uma camiseta amarela onde está escrita, na parte da frente a frase: Jesus transforma e, na parte de trás John 3.16. São mais de trezentos, mas para atender as áreas de todas as portarias do estádio é preciso muito mais.

Todos os dias de jogos no Mineirão lá estão eles orando, cantando e conversando com os torcedores sobre um assunto impactante para todos: a vida eterna.
Nos outros dias da copa os “amarelinhos” fazem o mesmo trabalho nos bairros, impactando as pessoas da mesma forma com uma abordagem de alegria e uma mensagem de salvação.
Participei de um dos cultos da “Vitória”, aqueles que são realizados nas noites após os jogos no Mineirão. Trago para os leitores duas experiências marcantes vividas por alguns dos participantes e relatadas na ocasião. A primeira delas acontecida no Mineirão e a segunda em um bairro da cidade de Ribeirão das Neves – Grande BH.

Um grupo de “amarelinhos” estava orando de mãos dadas pelas redondezas do Mineirão. De repente chegou um porto-riquenho com a bandeira da Costa Rica. Estendeu-a no chão ajoelhou sobre ela, pedindo ao grupo que orasse por seu País. A alegria era visível nos gestos daquele jovem. Após a oração ele deixou a bandeira de presente para o grupo.

Um senhor de 80 anos, chorando, estava sentado no meio fio em uma rua perto do presídio de Neves. Os “amarelinhos” foram chegando, e ele ao ver a frase “Jesus transforma” nas camisetas, imediatamente falou:
__ Jesus não! Ele levou minha mulher que só tinha 50 anos e me deixou com 80.
Uma das voluntárias sentou-se ao seu lado e com a mão no seu ombro lhe disse:
__ Pode chorar. O senhor está triste. Eu também perdi meu pai e fiquei muito triste.
Após um período de choro e conversa a voluntária propôs uma foto, dizendo que iria orar por ele em casa. Após a foto ele os surpreendeu dizendo:
__ Vocês podem orar por mim agora.

Assim estão vivendo os voluntários da Trans Copa nesses dias de copa no Brasil. Uns na linha de frente, levando alegria aos bairros e arredores do Mineirão. Outros na base, orando, telefonando para os decididos por Jesus, para uma palavra de afeto e confirmação.
A Deus toda a glória e aos voluntários toda a gratidão.

Senhorinha Gervásio

6/23/2014

Expresso Mineiro - Boletim Semanal da Convenção Batista Mineira


Leia esta e outras notícias do Expresso Mineiro, boletim Semanal da
 Convenção Batista Mineira


Diretoria da Convenção Batista Mineira para o biênio 2014 - 2016



Diretoria da Convenção Batista Mineira para o biênio 2014 - 2016 eleita pela Assembleia Convencional realizada em Timóteo em 22 de junho de 2014.

Da esquerda para a direita:
3ª Secretária - Rosimeire Rosa - Governador Valadares
2º Secretário - Nicolas  Alves Bastos  - Timóteo
3º Secretário - Pr Jaelson  de Oliveira Gomes – Caratinga
Presidente - Pr  Ramon Márcio de Oliveira -  Uberlândia
1º Vice Presidente - Pr Sandro Ferreira - Coronel Fabriciano
2º Vice Presidente - Pr Danilo  Secon-  Montes Claros
3ª Vice Presidente - Dra. Laiza Assunção - Belo Horizonte

Presidente de Honra Jonair Monteiro da Silva

Secretario Geral - Pr Marcio Alexandre .

5/10/2014

A TODAS AS MULHERES MÃES! – DO VENTRE E DO CORAÇÃO: UM RAMALHETE DE COR PÚRPURA




Em certas épocas do ano somos acometidos de uma dose maior de sensibilidade: Natal, Ano Novo, Dia dos Pais, Dia das Mães! Ainda mais quando nos damos conta da brevidade da vida aqui na terra, e quando a importância das pequenas ações se eleva ao grau máximo e se torna incapaz de ser contida no coração de quem a reconhece. E nesse ponto acontece como que uma explosão de sentimentos. Mesmo que seja silenciosa ela se expande, contamina a quem possa alcançar.
E foi o que aconteceu! Diante da TV, no horário comercial, vendo propaganda de Vasenol e Neutrox despertou-se em mim uma saudade indescritível de minha mãe, no tempo em que estávamos juntas! Lembrei-me também de que ela usava o creme Rugol. Na verdade parece que ele nunca valeu para o fim a que foi criado. A cada ano notava-se que os vincos de seu rosto estavam mais profundos. Mas isso não importava em nada! Sua pela estava sempre macia e cheirosa. Um cheiro bom e duradouro que se faz sentir até hoje nas lembranças e saudades. Um perfume mais interior que exterior. Que me faz querer ser, pelo menos um pouco, daquilo que ela foi para seus filhos. Do que continua sendo!
Mas como a vida não é só TV no horário de descanso, é também supermercado, lá estava eu acompanhando o marido nas compras. E com os olhos de quem caça flores antes de suprimentos domésticos, os meus caíram em cheio na flor púrpura que estava entre uma multidão de outras, variadas e lindas flores. Sem sequer olhar seu preço ela já estava como primeiro objeto, instalada no carrinho de compras. Era a flor da minha infância!
Não sei seu nome! Não sou dada a nome de flores, científico nem popular. Na minha infância, na fazenda Beija Flor, era chamada, “suspiro” e rodeava o quintal da casa. Algumas eram colhidas, antes das sementes e dependuradas de ponta cabeça no telhado da varanda e assim com o tempo era desidratada e guardada para o dia das mães. Naquele dia, todos recebiam, na igrejinha da fazenda, um ramalhete de flores. Alguns,  flores brancas, mas a maioria, flores da cor púrpura - aquelas preparadas durante o ano. Aqueles que recebiam flores brancas geralmente choravam. Era um momento de solene lembrança e saudade de suas mães que já tinham ido.
Eu recebia um ramalhete cor púrpura, mamãe recebia cor branca. Eu ficava meio triste por aqueles que, sem mãe, recebiam flores brancas. Principalmente mamãe que havia crescido sem a sua.
Mas hoje quero dar flores da cor púrpura para todas. Porque mesmo que sua mãe já tenha ido, algo dela permanece em você que nunca, ninguém poderá tirar... e você sabe bem o que é.

Senhorinha

4/18/2014

E POR FALAR EM OVOS DE PÁSCOA Uma homenagem a Sueli Silva




É incrível como certos acontecimentos que nos marcam tanto em determinadas épocas de  nossas vidas, demoram  para voltar à superfície de nossas lembranças! É claro que voltam vez ou outra, mas, apenas em relances  vagos de pensamentos descompromissados com qualquer atitude mais objetiva. Falo da demora de uma volta impulsionada pela força da gratidão. Aquela, carregada de um sentido prático, corajoso o suficiente, para em se, despindo de qualquer acanhamento,  externar em palavras o agradecimento àquele que nos marcou.

O bom mesmo é quando a volta se dá  num tempo em que, ainda é possível se ter essa atitude corajosa em relação ao outro que nos foi tão importante. Aquele outro que passou a fazer parte de nossa história, que ocupa nela o lugar mais rico, mais bem protegido e sublime da nossa subjetividade.

O fato em questão aconteceu pelos idos do início da década de 1970.  Foi no  período da  Páscoa. O assunto em sala de aula girava em torno de ovos. Assunto esse trazido,  não pela  professora, mas pelos alunos. Sueli Silva, a  Lili, filha caçula da D. Cecília, trouxe como merenda, chocolates em forma de ovos embrulhados em papéis coloridos... uma coisa maravilhosa de se ver e deliciosa de se provar. 

Eu, menina recém-chegada da roça, lugar desprovido de lojas, pertencia a uma  família em que  guloseimas como chocolate, não fazia parte das comemorações da Pascoa. Não conhecendo tal maravilha, fiquei simplesmente encantada com o colorido e doçura dos ovos.
_ Você nunca ganhou um ovo de chocolate na páscoa? __  pergunta-me  Lili com admiração  e a franqueza comum das crianças.
_Não! _ respondi meio envergonhada.

O feriado passou. A segunda-feira chegou. E então aparece Lili em frente a carteira em que eu estava sentada, estendendo em minha direção as mãos cheias de pequenos ovos de chocolate. Era a alegria materializada e embrulhada em  papéis  de várias cores. E foi assim que ganhei os meus primeiros ovos de páscoa.

A volta da lembrança objetiva e corajosa se deu em 18 de abril de 2014. 

A você Lili minhas palavras de gratidão.


Senhorinha