8/30/2014

Tomando meu remédio 9 - Quando as palavras não significam o que representam



        Na minha caminhada diária, que aconselhada pela endocrinologista, chamo de “meu remédio”, estava eu no calçadão da Avenida Afonso Pena. Quando de repente uma moradora de rua veio em minha direção e disse:
- Bom dia!
- Bom dia! -Parei e respondi.
Ao que a moça, estendendo seu braço direito num gesto de me empurrar para o lado, só não o fez porque saí do seu caminho, disse:
- Não é com ocê.- E passou por mim apressadamente.
Olhei para trás e ela estava pedindo dinheiro a uma senhora, logo atrás de mim, arrumada e com sua bolsa tiracolo.  Também, pudera, eu estava com roupa de caminhar, com apenas uma chave na mão.

Fiquei toda sem graça e continuei meu caminho, pensando no significado das palavras e frases. Nem sempre a frase “bom dia” representa o desejo do outro que seu dia seja bom. Em algumas lojas, por exemplo, quando pomos os pés na porta, um vendedor ou vendedora nos diz em voz alta: “bom dia”. Mas esse “bom dia” serve apenas  para marcar sua vez no atendimento aos clientes, que é feito por rodizio entre os vendedores.


Durante a caminhada no Parque Municipal vejo alguns  caminhantes desejarem “bom dia”. 

Agora me pego olhando para trás antes de responder, para me certificar se o “bom dia” é mesmo dirigido a mim. 

8/28/2014

Tomando meu remédio 8 - O motoqueiro da rua Maranhão.

      Mais uma manhã de caminhada. Depois de circular o lago dos barcos no Parque Municipal de Belo Horizonte, que fica no centro da cidade, estava eu na Rua Pouso Alegre. De repente um motoqueiro parou ao meu lado, tirando o celular do bolso.
__ Alô! __ atendeu ao telefone.
__ Eu tô na Rua Maranhão, na Santa Efigênia.
Assustada,  olhei para um lado e depois para outro, como o caipira da piada, perdido no centro da cidade grande que exclama:
__ Onque eu tô. Donque eu vim. Pronque eu vô. Quem que eu sô!  - tô na Maranhão ou na Pouso Alegre?

Então fiquei me lembrando, pelo resto do caminho até em casa, de vários episódios em que vi alguém mentir descadaramente. Um deles foi quando minha família estava vendendo um apartamento. A corretora levou uma pessoa interessada. Após mostrar todos os cômodos, ao se despedir disse-me:
__ Amanhã depois do almoço vou trazer outra pessoa interessada.
Cancelei meu compromisso e fiquei a espera... Dias se passaram. Então a corretora ligou para agendar outra visita e eu logo disse:
__ Escuta, você falou que traria uma cliente, cancelei meu compromisso e você não veio.
Foi aí que ela quis me dar uma lição de vida.
- Você não entende! Eu falei aquilo só pra cliente ver que tem mais gente interessada no apartamento.
Oh! Por que ela foi fazer aquilo! Eu fiquei muito brava com ela.
Outro episódio foi no Parque Municipal. Estava passando e sem querer, ouvi a conversa de um senhor que estava sentado em um dos bancos tomando sol. Ao telefone ele disse a seguintes frase:
__ Ó, eu só vou poder fazer seu serviço à tarde, porque agora eu tô aqui em Betim resolvendo umas coisas.
Eu pensei:
- Que descarado! Ele está tomando sol no Parque!
A mentira está mesmo muito presente. Até mesmo em alguns estabelecimentos,  com lanchonetes e restaurantes. Em alguns deles  quando os clientes pedem nota do que gastaram para apresentarem às suas empresas eles tem coragem de perguntar:
- De quanto quer a nota?

Na verdade a corrupção está solta. Aqui, lá, em todo lugar.

8/27/2014

Tomando meu remédio 7 - Os mendigos e seus cães




Já ouvi dizer que os cães se apegam aos seus donos, e os gatos se apegam às suas casas.  Deve ser por isso que existe o ditado: “o cachorro é o melhor amigo do homem”. Se verdade ou não, nunca vi gatos nas cabanas que os moradores de rua armam nas calcadas das cidades, mas já vi muitos cães que os acompanham. E por causa deles enfrentam situações complicadas.

Tive um vizinho, morador de rua, que armou sua barraca de lona em um lote vago ao lado de minha moradia. E por várias madrugadas pudemos ouvir seus gritos chamando por seu cachorro:

__ Totó! Ô Totó! Vem cá.

Fato que muito me surpreendeu foi o que ocorreu em um fim de tarde, quando ouvi conversas estressadas vindas do tal lote. Ao chegar à janela vi uma cena interessante. Umas dez pessoas entre homens e mulheres, todos jovens, gritando com o morador do barraco, palavras acusatórias de que ele estava maltratando o cachorro. Que se ele não parasse de bater no cãozinho, iam denunciá-lo por maus-tratos.  Quanto mais o rapaz tentava explicar que não batia no cachorro mais os jovens se alteravam.

Fiquei parada, olhando a cena, quando três dos homens pularam em cima do rapaz, dando-lhes socos e um empurrão no peito, jogando-o com as costas no chão. Preparei-me para chamar a  polícia. Vendo que ficaram  calmos, desisti.


Veja só o contrassenso! Suponhamos que o cara tenha batido no cachorro. Mas isso justifica três homens bater nesse cara? Não estaria a preocupação exagerada com os direitos e proteção do animal, fazendo-os desrespeitar os direitos do ser humano?

8/25/2014

Relembranças 2 - Essas mulheres maravilhosas e seus PEITOS ENORMES



Quando em crescimento e aonde cresci as mulheres mães de bebês amamentavam-nos em público, sem sequer jogar uma toalhinha ou fralda sobre seu peito. Aquele era um momento sublime, quase um ritual, quando enfiavam a mão sob o decote, deslizando-a sobre o peito e ao chegar na parte inferior do mesmo o levantava. E com a ajuda da outra mão que puxava a roupa, colocava a mostra aquele peito recheado de leite.  Nas igrejas durante as missas ou cultos podia-se ver o desfile de mães orando, cantado e amamentando... Eram  Peitos marrons, pretos e brancos. Os que  eram brancos ficavam até rosados, exibindo veias entrelaçadas no seu contorno arredondado daquilo que era uma maravilha pra mãe e pra filho.

O ato da amamentação no peito era comum e natural. As meninas brincavam de casinha e em suas casinhas serviam umas as outras, café, comida e também imitavam as mulheres mães amamentadoras, colocando ao peito ainda não desenvolvido, futuro armazenamento de leite, suas bonecas, de pano, de sabugo de milho, de porcelana, de papelão.

Os peitos de uma mulher amamentadora eram vistos de uma forma diferente. Eram envolvidos em um simbolismo e um significado, que  pouco a pouco foi sendo modificado. E um dia, quando eu já não estava mais lá, soube de um fato ocorrido em uma das igrejas da cidade. Uma religiosa saída de Salvador ao chegar à cidade, em um dos cultos de sua igreja  teve a infeliz iniciativa de se levantar de seu lugar caminhar entre os bancos e colocar um lenço sobre o peito de uma jovem mãe que amamentava seu bebê. O triste é que  ela nunca mais voltou a igreja. O mais triste é que a comunidade não se pronunciou e o puritanismo farisaico (se é que existe isso) venceu.
O tempo passou e me tornei mãe. Experimentei o que existe de mais emocionante no mundo: tirar o peito, lindo redondo e enorme; expô-lo ao mundo e coloca-lo na boca do bebê... Pouco a pouco sentir o leite correr pelos canais e explodir, às vezes com tanta força que a cara do bichinho ficava toda molhada. Nesse momento a boca secava e eu precisava desesperadamente de um copo d’água. Somado a  esse prazer estava o fato de ver dia a dia a criança se desenvolvendo com o alimento saído do meu corpo. Era um mistério e um milagre.

Muitos homens e mulheres viram meus peitos e nunca me preocupei se estava por perto algum “tarado”. Porque amamentar em público, mostrando o peito, era algo cultural pra mim. Parece que o contrário acontece nas capitais, pois nunca vi na capital onde fui mãe e até hoje moro, uma mulher tirar o peito e amamentar em publico. Mas já vi muitas saírem com o bebê aos gritos e se esconderem em alguma sala para amamentar. As mais ousadas tiram o peito por baixo da blusa e não pelo decote. Para mamar, o bichinho tem que aguentar uma roupa incomodando seu rosto o tempo todo.

Como mulher e como mãe  acho que mães e bebês devem ter a liberdade de exibirem seus peitos: elas porque são a fonte do melhor alimento do mundo. Eles por tê-los como sua propriedade, nesse período de suas vidas e pelo privilégio de terem nascido de uma mãe saudável física e emocionalmente.

8/22/2014

Relembranças 1 - A moça de Mutum e o cowboy de Aimorés



Era tarde de sábado na cidade de Aimorés estado de Minas Gerais. Um sábado qualquer, de um mês qualquer, de um ano triste. Todos os sábados pareciam iguais. Ela saía de Resplendor, no trem Rápido, descia em Aimorés e tomava um ônibus para Mutum. Na segunda-feira fazia o caminho inverso. Em Resplendor, cuidava da mãe doente, estudava as matérias do seu curso à distância, chorava seu amor perdido. Tudo isso fazia daquele ano, um ano triste.

Apesar de todos os seus sábados parecerem iguais, aquele foi diferente. Ao chegar à estação ferroviária em Aimorés, atravessou a praça central até o bar  que era uma espécie de rodoviária. Chegou a cara no buraco do vidro e pediu:
- Uma pra Mutum.

Olhou o papel colado no vidro, descobrindo o aumento da passagem ocorrido naquela semana. Pediu que a moça esperasse um pouco antes de destacar a passagem. Conferiu seu dinheiro. Ele não dava para a viagem.

Saiu do local cabisbaixa e atravessou novamente a praça, como se estivesse carregando sobre os ombros a tristeza de todos os habitantes da terra. Não tinha ideia do que fazer! Sentou-se em um dos bancos. Revirou a bolsa mais uma vez na esperança de achar algum dinheiro solto em algum compartimento da mesma. Tempo perdido, não encontrou nada. 

Contou novamente as cédulas e as moedas. Nenhuma delas havia dado cria. Colocou-as no bolso do jeans desbotado.

Caminhou até a estação, à procura de alguém conhecido que pudesse lhe socorrer. A estação estava deserta. Voltou à praça, sentando novamente no mesmo banco. Seus pensamentos giravam desconexos. A única coisa sóbria que lhe vinha a mente era a frase:

- Deus mande alguém pra me socorrer! Tem que ser agora Deus, porque senão o ônibus parte.

Com a cabeça  baixa e as mãos na testa ali ficou à espera do milagre. Foi quando viu um par de botas em pé à sua frente. Seus olhos ficaram fixos. Depois pouco a pouco foi vendo parte a parte aquela figura impoluta. Primeiro a calça jeans Lewis. Depois, a fivela grande e prateada do cinto com a figura de um cavalo.  Viu a camisa xadrez de vermelho, o rosto másculo e bonito emoldurado com um chapéu de couro. Parecia a perfeição em forma de homem. 

Com voz mansa lhe falou.
- Posso me sentar?
- Oh sim! Claro! – Respondeu a moça no grau extremo de sua timidez.

A conversa foi iniciada. Ele falou de música, de rádio. Era de Belo Horizonte, mas estava em Aimorés, trabalhando na rádio e cantando música sertaneja.

- E você, o que faz aqui? – perguntou com ar simpático.
A moça iniciou sua história recente. Após contar seu drama, ele abriu a carteira retirou uma cédula e lhe estendeu:
- Vá lá e compre sua passagem.

Ela saiu apressada rumo ao guichê. Não antes, de fazê-lo prometer que a esperaria ali para receber o troco.

Ao voltar o banco estava vazio. Ele havia sumido. Olhou por todos os lados, mas não o encontrou. Nem pôde agradecê-lo!

Mais de trinta anos são passados. E eu, a moça de Mutum agradeço sempre a Deus a sua vida  e minha prece nesse tempo todo é a mesma:


- Deus, se ele ainda estiver vivo, estende tuas mãos de bondade e misericórdia sobre ele, o anjo cowboy, que o Senhor usou para me socorrer, naquele sábado triste em Aimorés.


8/19/2014

Tomando meu remédio 6 - Anúncio na faixa

Na volta para casa, da caminhada de mais uma manhã, mudei de rumo na esperança de encontrar material para mais um crônica. Depois de subir a ladeira, redundância para quem mora em Belo Horizonte que, segundo uma paulista, aqui a gente não anda   sobe e desce morro, virei à esquerda e lá estava o que precisava: uma faixa anunciado  um curso de reciclagem.  

Pus-me imediatamente a pensar no assunto. Como é sabido, reciclagem é o processo de transformação de materiais usados, em novos produtos com vista à reutilização. É um termo que tem sido cada vez mais utilizado como alerta  para a importância da preservação dos recursos naturais e do meio ambiente.

Vendo melhor a placa pude identificar, para qual material era o tal curso. Reciclagem de condutor...

Para essa última palavra me veio a mente condutor elétrico, descobrindo em seguida que não se tratava desse tipo de condutor, mas sim de condutor infrator.




Alguns condutores infratores certamente são possíveis de serem reciclados, para preservação de suas vidas e daqueles que se põem em seus caminhos. Mas alguns outros só mesmo levando para o aterro sanitário.

8/18/2014

Tomando meu remédio 5 - Todas as velhinhas merecem ser elegantes




Dá gosto ver uma velhinha elegante. D. Sinhá, por exemplo, é lindamente elegante. Aos 100 anos exibia simpatia e cordialidade. Passou horas da sua festa sentada para ser fotografada com quem desejasse. Deu entrevista à rádio Itatiaia e ganhou de presente uma visita à cidade do Galo - Clube Atlético Mineiro, time do coração, com direito a foto com os jogadores e matéria no Estado de Minas.




Hoje com 103 anos se recupera  de mais uma fratura fruto de mais uma queda. Mas não é que a danadinha já esta ficando em pé sozinha e outro dia deu 5 passos? Além de elegante tem uma facilidade e se recuperar que é incrível. Gosto de ser sua amiga e usufruir de seu senso de humor e otimismo.





Mas existem aquelas mulheres que, infelizmente, com a chegada da idade, chega também uma espécie de síndrome do “qualquer coisa tá bom”. Então, se tinham os cabelos pintados começam a deixar aquelas raízes brancas horríveis. E como se não bastasse começam a calçar meia fina tamanho ¾ com saia. Aquelas que enquanto se está em pé, está elegante, mas basta sentar-se que a saia sobe e os olhos da gente caem sobre aquela coisa feia. Todas as vezes que vejo uma cena dessas falo em silêncio pra mim mesma:
__Se Deus me der vida até ficar velhinha nunca vou usar meia fina ¾ com saia.

Mas hoje o inacreditável aconteceu. Vi uma velhinha linda com cabelos de neve, roupa apresentável em tons pastéis. Mas lá estava a meia. Não! Não era a meia fina. Era pior que isso! Era uma meia social masculina na cor marrom.
Diante de tal cena a única coisa que pude dizer a mim mesma foi:

__ Todas as velhinhas merecem ser elegantes. 

Mas, infelizmente poucas conseguem.

8/17/2014

Tomando meu remédio 4 - Com que roupa?

Muito conhecida é a música de Noel Rosa com este título. A história diz que, sendo o filho amante da vida noturna, e tendo a saúde frágil, sua mãe escondeu todas as suas roupas para que ele pudesse ficar em casa e descansar um pouco,  pois a cada dia via que ele estava um pouco mais magro.

Aproveitando a situação Noel compôs a referida música. Artista é assim, faz das situações difíceis, arte, tornando-as inesquecíveis.

E por falar em roupa, quando se sai para caminhar vê-se de tudo: Senhoras, caminhando com calça jeans, velhinhos com roupa social, jovem com sombrinha aberta.




Mas o incrível mesmo, foi encontrar, em plena Avenida Assis Chateaubriand, várias peças de roupas dependuradas em árvores. Acreditem, ou não, vi isso. Mudei o rumo do caminho só para observar de perto. E qual não foi minha surpresa! Havia um cartaz escrito  com letras grandes: “Moradores de rua está muito frio aí fora. Pegue um desses”






Fiquei muito admirada com o gesto e fã da pessoa que teve a ideia. 

8/16/2014

Tomando meu Remédio 3 - Caminhar não é só remédio - é também presente


Um dos homens conhecidos da história, que entregou seu trabalho e sua vida à divulgação dos ensinos de Jesus Cristo, foi Paulo, o Apóstolo. Na coleção de 66 livros - A Bíblia,  estão registradas 13 cartas escritas por ele às várias igrejas cristãs organizadas no período de seu ministério. Em uma delas, quando já velhinho, ele escreveu: “combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”. Longe de fazer qualquer comparação com Paulo, digo: completei meu compromisso comigo mesma, caminhei de segunda a sábado. E o mais importante, estou mais feliz que antes. Mais feliz, não só porque meu corpo está mais leve, mais ágil, mais saudável. Estou mais feliz, também, porque meus olhos e ouvidos ganharam alguns presentes nestes dias. Um deles, foi ouvir o sotaque, mais mineiro, dos últimos meses. A velhinha contando suas moedas chega à banca de revista e diz ao vendedor:

__ Minino, mas que fri é esse?
Ao que, todo animado, o rapaz responde:
__ Nossinhora! Esse é o verdadeiro vento de agosto!


Outro foi ver uma senhora com os cabelos pintados de vermelho. Como ela estava linda! Sem aquela afetação de mulher de meia idade que quer parecer adolescente. Ela Vestia roupa de senhora. Andava como uma senhora. Só tinha os cabelos pintados de vermelho. 
Como desejei conhecer sua história.

E outro foi ver um velhinho regando um canteiro de flores na rua Sapucaí.




É claro que recebi  outros presentes para minha existência... Tão caros e tão raros que serão compartilhados um a um em uma crônica específica.

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8/14/2014

Tomando meu remédio - 2 - Susto na foto


Praça da Estação - BHMG

Minhas últimas noites têm sido povoadas de sonhos ruins, mais para pesadelos. Acho que fruto da vivência de tristezas, guerras, tragédias e violência que, mesmo longe fisicamente, estão mais próximas do que imaginamos.
Mas como não vale a pena descrever minuciosamente meu último sonho, mesmo sendo ele interessante na sua estrutura, vou falar de uma experiência vivida em uma de minhas caminhadas pelas ruas e praças de Belo Horizonte.

Para ser sincera, como gosto de ser, tenho medo de ser assaltada na rua. Então saio com o mínimo possível de acessórios que chamem atenção daqueles que acalentam a filosofia do “que é seu é meu”. Daqueles que não podem ver algo com alguém que logo querem pra si, e para isso tomam da pessoa.

Sair de relógio, nem pensar! Desde o dia em que, num reflexo inacreditável, dei um soco no pé do ouvido do assaltante e ele rodou de tonteira. Nunca mais usei relógio! É claro que o assaltante era um adolescente! Daqueles que saíam em bando pelas ruas do centro de BH fazendo terrorismo com os transeuntes. Pois é, dei de cara com um... Estava usando o relógio  no braço direito. Quando fui consertar a bolsa que estava no ombro esquerdo, o danado voou no meu braço enfiando os dedos entre ele e a pulseira do relógio. Como o meu braço estava junto ao peito, foi só fechar a mão e derriçá-la na cara do sujeito. Meu Deus! Que vergonha! Bom, fazer o quê? Pedir desculpa pro carinha? O certo é que  minha cara queimou. Um rapaz que estava também no ponto de ônibus olhou assustado, dizendo:

__ Nossa moça você é brava!

Tive outras aventuras parecidas. Uma dentro da minha própria casa quando fiquei cara a cara com o ladrão que levou meu notebook que,  ainda nem tinha acabado de pagar.

Deixando de lenga lenga e indo direto ao assunto, estava eu caminhando, quando cheguei à Praça da Estação . O celular no silencioso, escondido no bolso da blusa. Quando de repente meus olhos caíram sobre as flores de uma árvore bem no centro da praça. Olhei de um lado e outro, parecendo uma policial, verificando se havia por perto alguém suspeito. Achei que não. Meti a mão no bolso e com a rapidez que pude, liguei o bichinho, direcionando-o para a árvore  a fim de dar o clik e escondê-lo novamente. 
Exatamente nesse momento ouvi atrás de mim uma voz dizendo:

__ ô moça!

O susto foi tamanho que dei um grito! O cara se assustou também e eu ri meu riso amarelo pro seu lado pedindo desculpa. Foi então que, me pediu dinheiro. Enquanto  ouvia sua história de que morava na rua e precisava comprar um pão pro seu café da manhã, e que não era ladrão, fui observando aquela figura exótica à minha frente.
Estava ele limpo vestido de calça Jeans, camisa floral amarrada com um nó à frente exibindo sua enorme barriga. As unhas pintadas na cor rosa, no pescoço um colar de metal bem trabalhado, os cabelos presos em um coque daqueles usados pelas mães de antigamente na fase dos 60 anos. Seu rosto estava rosado pelo calor do sol lindo e brilhante.

O cara acreditou que eu não tinha dinheiro. Acho que é porque estava com roupa de caminhar. Me falou coisas bonitas, me desejou um bom dia, boa sorte e “vai com Deus”.

Continuei a caminhada com a cabeça repleta de pensamentos esquisitos. Não antes, de olhar pra trás para vê-lo uma última vez.

Como gostaria de ter fotografado o cara! 

Tomando meu remédio –1


Chega uma época na vida das pessoas que o exercício físico deixa de ser uma opção saudável e vira uma necessidade, um remédio, como dizem alguns médicos. Mas para muitos, na verdade, vira um pesadelo.
Eu que, desde 2001, venho, ano após ano, ouvindo a mesma frase: “pra você exercício não é uma opção e sim uma necessidade”, até agora encarei o fato como um pesadelo.
Depois de todo esse tempo, resolvi parar de sofrer com a ideia de perder, ou gastar, todos os dias, mais ou menos duas horas com o tal exercício físico. Você pode estar argumentando: mas a recomendação não é fazer exercício durante duas horas! Eu argumento de cá que, entre o preparo para a saída, a chegada ao local, o tempo do exercício, a volta para casa, o banho... Até o retorno às atividades rotineiras lá se vão duas horas ou quase isso.
Mas para a saúde não importa o tempo investido. O que importa é o resultado. O que importa é o que uma boa caminhada faz no nosso corpo e na nossa mente.  Então eu que, quero viver bem e conhecer os meus netos, resolvi renunciar algumas atividades para tomar “meu remédio”, ficar boa física, intelectual e psicologicamente, e acima de tudo, parar de levar bronca dos médicos.

Como reforço para minha decisão, e para vencer o pesadelo, resolvi criar um compromisso comigo mesma: registrar as experiências vividas nas minhas caminhadas.

Assim nasce a série: Tomando meu remédio.