Estou fechando a quarta semana de compromisso comigo mesma
de caminhar e escrever. Quem está acompanhando esta série de crônicas chamada
“Tomando meu remédio”, sabe do que estou falando. Para quem não sabe, terei
prazer em explicar. O fato é que por uma questão de saúde fui obrigada a mudar
de atitude e iniciar o hábito de
caminhar ao sol. Isso devido a alta de glicose e baixa de vitamina D no meu
corpo. Querendo dar um sentido a mais a essa atividade iniciei o registro de
fatos interessantes observados no período das minhas caminhadas.
Tenho de admitir os vários benefícios experimentados nessas
quatro semanas:
Pude ver coisas lindas como um velhinho regando um canteiro de
flores em uma esquina e uma jovem mãe
ensinando a filhinha a atravessar a rua. Achei sua lição um tanto dura, quando a ouvi perguntar
pra filha:
-- você quer morrer esmagada por um carro?
E como a menina, calada
olhava assustada pra a mãe, a mesma repetiu:
-- me responda! Você quer?
A criança, com cara de choro respondeu:
--Nãooooo.
E nesse momento a mãe toda orgulhosa deu a lição final:
-- Então só atravesse a rua quando o bonequinho estiver
verde.
Vi um idoso de 77 anos dar entrevista a um grupo de estudantes no Parque Municipal, e depois pude
acompanhá-lo na leitura de seu livro grosso e antigo, todos dias no mesmo
banco, fazendo suas anotações com uma caneta azul nas bordas do mesmo. Pude
conjecturar quanta sabedoria escondida naquela cabeça e oque acontecerá com
aquele livro quando o velhinho se for.
Muitos familiares doam bibliotecas inteiras de velhinhos sabidos sem sequer
folhear seus livros e ler suas anotações. Espero que isso não aconteça com os
seus livros.
Vi mendigos cuidando dos seus cachorros com muito carinho.
Vi moças, rapazes, homens e mulheres passeando com seus cães e esperando
pacientemente que marcassem o território com suas mijadinhas em cada poste.
Também pude apreciar os cheiros da cidade. No parque pude sentir
o cheiro de suas flores, de sua grama
molhada, das águas do lago dos barcos e nas ruas pude sentir o cheiro de tempero vindo das cozinhas das casas.
Mas também vi coisas não tão lindas e senti cheiros não tão bons. Vi um
grupo de mendigos com seus rostos inchados deitados na calçada da rua da Bahia e senti o
cheiro de aguardente vindo de suas garrafas. Senti o cheiro fétido de urina
humana nas pilastras dos viadutos. Vi jovens encostados em muros, fumando, e
senti o cheiro de seus baseados.
Foram quatro semanas de aprendizado, de novas experiências de
vida pulsando dentro e fora de mim. Além de tudo isso, pude sentir meu corpo mais leve e mais fino,
podendo com alegria resgatar novamente para o armário, peças de roupas, que por
estarem apertadas foram guardadas e que por muito amá-las não tive
coragem de coloca-las nas sacolas de doações.
Por todos esses fatos vistos e esses cheiros sentidos, celebro
com alegria o fechamento das primeiras quatro semanas da minha nova experiência
em viver melhor.
Continue tomando o seu remédio, está fazendo muito bem pra mim.
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