5/17/2015

Aventura em um fusca azul - um livro escrito em três Atos e três Pontos de Virada

Quando decidi aceitar o desafio de escrever o livro que viria a se chamar: Aventura em um fusca azul – trajetória missionária no Uruguai - Pr. Geraldo e Elvira Rangel revi todas as minhas anotações das aulas de roteiro que tive com o professor Erick Azevedo no curso de Artes Visuais na Casa dos Quadrinhos em Belo Horizonte; além disso,  comprei e li o livro O caminho das Pedras de  Ryoki Inoue,  autor de inúmeros  livros de leitura fácil, mais precisamente 1035 livros publicados na época da edição citada. Também reli o livro a Jornada do Escritor de  Chistopher Vogler conhecido  roteirista que fez um apanhado das pesquisas de Joseph Campbbel, no contexto antropológico em que estuda de forma profunda as mil faces do herói dos grandes mitos e histórias dos povos em suas várias épocas. De acordo com esses estudiosos os roteiros que mais agradam aos leitores ou expectadores são aqueles estruturados em Três Atos e dois ou cinco Pontos de Virada. Pontos de Virada  são momentos importantes que mudam o rumo da história de vida do personagem, colocados intencionalmente entre os Atos de forma a manter o interesse do leitor.

Para aqueles que gostam de escrever vale dizer que o Primeiro Ato de um roteiro corresponde a mais ou menos 25% da obra e é usado pelo escritor/autor para as apresentações dos personagens principais no seu mundo comum ou seja, no seu ambiente natural. Nesse ponto da história o escritor/autor acena com um acontecimento que tirará o personagem da sua zona de conforto e jogá-lo-á em um mundo diferente, que Vogler chama de mundo especial. Aqui estamos falando do Primeiro Ponto de Virada, que é aquele acontecimento relevante que requer do personagem uma tomada de decisão que mudará o rumo de sua vida. A essa tomada de decisão Vogler chama de aceitação ao chamado à aventura. No caso de Geraldo e Elvira, personagens principais da história Aventura em um fusca azul o primeiro Ponto de Virada se deu no momento em que os jovens decidiram obedecer ao chamado de Deus para a obra missionária e, largando tudo o que estavam vivendo e fazendo buscaram o preparo para o ministério, ele no Seminário Batista do Sul do Brasil e ela no Instituto Batista de Educação Religiosa.

Após essa mudança completa no rumo da história ela entra no Segundo Ato que tomará mais ou menos 50% do livro. Aqui os personagens já estão na parte que Vogler chama de mundo especial.  Em busca do alvo para o qual foi chamado o personagem enfrenta todos os obstáculos que envolvem essa maior parte da obra. No caso em questão abrange o preparo dos jovens Geraldo e Elvira, a consagração ao pastorado, o casamento, o comissionamento, os campos missionários de Melo e Durazno no Uruguai, bem como o nascimento de seus filhos. Após grande parte dos obstáculos vencidos, e estando a igreja organizada e estruturada na cidade de Durazno acontece na história outro Ponto de Virada que muda o rumo dos personagens que agora são cinco, pois a família foi acrescida por Deus com a chegada de Daniel, Eliane e Ana Cristina. Nesse ponto da história estamos prestes a entrar no Terceiro Ato.

O Terceiro Ato se dá após outra tomada de decisão, a de iniciar uma frente missionária na cidade de Atlântida, região de lindas praias e sem nenhuma igreja batista. Esses 25% da obra gira em torno desse trabalho em que o casal organiza mais uma igreja, começando do zero e seus filhos se preparam para o ministério. Daniel no Chile, Eliane e Ana Cristina no Brasil.


O terceiro Ponto de Virada acontece na história no momento em que o casal decide voltar ao Brasil, pois Pr. Geraldo recebe o convite para ser Coordenador Estadual de Missões Mundiais em Minas Gerais.  O livro termina com a volta do casal amadurecido, com uma vasta experiência na vida cristã. Esse ponto da história é chamado pelos roteiristas de "o retorno transformado" quando o personagem volta ao seu mundo comum, só que agora  transformado pelas experiências da aventura vivida durante a mesma.




5/12/2015

MÃE NÃO É SINGULAR - Israel Belo de Azevedo

MÃE NÃO É SINGULAR
Mãe é o corpo que nos recebe primeiro.
Quando ainda somos desejo,
ela nos vê por inteiro
na entranha que nos guarda,
no útero que nos nutre,
no ventre que nos forma.
Foi seu colo que nos protegeu.
Quando nosso corpo a luz encontra,
ela chora não de dor, embora real,
mas de alegria porque a manhã aconteceu.

Mãe é a mão que nos coloca no berço primeiro,
leito que emula o lugar da espera,
casa colorida que é também um porto seguro,
acompanhada de lágrimas para celebrar
o primeiro encontro do lácteo seio,
o primeiro olhar entre os dois trocados,
o primeiro sorriso da suave bochecha,
o primeiro passo pelo quarto adornado,
a primeira palavra (e se for "mamãe"!... ela vai delirar),
gestos que um álbum pode perenizar.

Mãe é o pé que pisa primeiro,
para nos mostrar como andar pelo tapete do quarto,
depois pela rua que será o nosso itinerário,
ainda pela vida que será a nossa morada.
Mãe não mostra como firmar o pé.
Ela firma o seu e nós firmamos o nosso.
Mãe não diz como ir: ela vai na frente,
desde aquela tarde no primeiro parque,
desde aquela manhã na primeira aula.
E quando ela retirou o pé, por necessário,
ficou em distância suficiente para intervir
numa velocidade maior que o som, se necessário.

Mãe é o som, sonido, balbucio, ouvido primeiro.
É voz que o filho não esquece.
É a voz que não devemos esquecer,
quando vamos dobrar a esquina ("cuidado!),
quando precisamos tomar uma decisão ("pense bem!")
quando nos preparamos para casar ("isso é para sempre, meu filho"),
quando estamos às vésperas de uma viagem ("não está esquecendo nada?"),
quando desejamos mergulhar em águas mais profundas ("perigo!)
quando estamos imersos em alguma tristeza ("filho, eu te amo")
quando trilhamos o caminho do erro ("volta, meu filho!").

Mãe é mente que nos ensina a pensar.
Mãe é coração que nos mostra como amar.

Para uma mãe nossas palavras nunca exageram.
nossas imagens jamais excedem.
Mãe é mãe sempre.
Sua ternura a torna eterna.
Filho, o filho bom, é filho sempre,
mesmo depois que mamãe parece que se tornou
apenas uma foto ou uma coleção de imagens na memória.
A mesa tem o cheiro dela.
A casa tem o seu jeito.
Nossa vida tem o seu perfume.

Mãe, mesmo morta, é amor que nos encanta.
É presença que ainda nos acalanta.
É balanço -- e tantos foram para hoje lembrar --
que ainda nos faz muito alto voar.

Mãe é um coletivo de palavras,
umas descrevem, outras imaginam.
Mãe é um buquê de imagens,
e tão boas são que, por verdadeiras, nos fascinam.
Ao filho, cabe ajoelhar-se diante de Deus
e por sua mãe agradecer.
Quem nunca agradeceu pode hoje começar.
À mãe, cabe curvar-se diante de Deus
para à sua imagem corresponder,
sabendo que há uma boa jornada a realizar.



Israel Belo de Azevedo

5/09/2015

Joca - processo de criação


Joca é um dos personagens criados por mim e fazem parte do material da revista  "Minas Um desafio infantil". Em breve vocês conhecerão seus  companheiros, Nina, Tate e Teo.
Até lá.



5/06/2015

Dedoches para história dos reis Saul e Davi

Apresento a quem desejar os dedoches abaixo para a história dos reis Saul e 
Davi encontrada no livro bíblico I Samuel.
Os arquivos que compõem os dedoches e o cenário já estão em tamanho natural e em
 qualidade de impressão, bastando salvá-los, imprimindo-os em gráfica rápida no tamanho A4.
Para montagem do cenário basta recortar as imagens deixando uma pequena
margem no entorno da figura para que a mesma se destaque. 
(veja modelo abaixo)
A ideia do cenário é apenas para guardar os dedoches, pois no momento da contação da história
eles serão usados nos dedos. 
Querendo dar mais durabilidade ao seu material cubra as peças com papel
contact transparente. assim você terá material para vários anos.


Cenário em forma de palácio/castelo para guardar os dedoches.
O arquivo está em tamanho A3, mas deve ser impresso em tamanho A4.

Foto do cenário montado com os personagens em dedoches.
Note que os que estão cortados com uma borda branca no seu entorno ficam 
mais visíveis no cenário e logicamente quando colocado nos dedos para
a contação da história.
Na ocasião em que a foto do cenário foi feita o guerreiro Golias ainda
não tinha sido criado.

Aqueles que desejarem usar esse material, em tendo alguma dúvida pode deixar suas perguntas no espaço de comentário abaixo.
Senhorinha



Dedoche - Golias



Dedoche - rei Saul






5/05/2015

Desenho - dedoche Profeta Samuel


Trabalho feito para a revista "Minas um Desafio" parte  Infantil para a Convenção Batista Mineira para a campanha de Missões Estaduais 2015. Até o final do mês de maio chegará às igrejas  batistas de Minas Gerais. 

5/03/2015

Mocambo, a sua casa fora de casa


Para quem pega estrada de Belo Horizonte rumo ao Norte de Minas uma parada obrigatória para uma deliciosa refeição é o restaurante Mocambo que fica perto da cidade de Augusto de Lima.  Além de experimentar uma comida mineira deliciosa o viajante experimenta uma viagem pelo tempo, conhecendo objetos como cama feita de madeira rústica com colchão de couro, objeto desconhecido por muitos de nós.


Além de peças como esta, no ambiente do Mocambo o visitante pode,  após a refeição descansar em cadeiras e camas espalhadas estrategicamente pelo local.




Para deleite da criançada o restaurante Mocambo oferece casinhas  cercadas de plantas e pontes de pedras e objetos que encantam também os adultos.





Você poderá ver:
www.youtube.com/watch?v=YTbR9CnmhkU
www.youtube.com/watch?v=PL0wCek153A


11/02/2014

tomando meu remédio 12 - balanço trimestral - caminhar é mesmo um bom remédio


Os profissionais da contabilidade fecham a cada mês suas contas para iniciar a administração do mês seguinte. Fecho com salto positivo, em experiência, o terceiro mês de caminhada pelas ruas de Belo Horizonte. Nesse quarto mês, o de novembro, terei resultados, provados por exames laboratoriais que espero confirmem o bem que estou sentindo.

Andei um pouco sumida das postagens devido às muitas tarefas, incluindo a elaboração de  52 desenhos para a revista Reflexões Bíblicas que será publicada nesse fim de ano com estudos bíblicos de autoria do Pr. Francisco Mancebo Reis e da professora Isabel Franco, que será distribuída pela Convenção Batista Mineira às Igrejas Batistas de Minas em 2015. O lançamento da mesma está agendado para 12 de dezembro, conforme banner abaixo.


Desenho digital - ilustrações de  dois dos estudos



Voltando ao assunto inicial, para aqueles que iniciaram comigo, eu caminhando e eles lendo sobre o meu caminhar, apresento  os resultados dos meus  esforços.
Início de Agosto 2014
Peso – casa dos 56kg
Glicose - 135
Km de caminhada diária (segunda a sábado) – 4km

Início de Novembro 2014
Peso – casa dos 54kg
Km de caminhada diária (segunda a sábado) – 8km.


Falta agora o resultado do exame da glicose  que será feito em meados de novembro. Diante dos resultados parciais, concluo mais uma vez que caminhar é mesmo um remédio.

9/22/2014

Presente num domingo de manhã


Recebi aquele presente em 21 de setembro de 2014. Era manhã de domingo. Uma daquelas manhãs de vento fresco e sol brilhante. Para recebê-lo teria que comparecer em certo local. Na chegada, o porteiro avisou:
--Dona Antônia está no velório três.

Subimos a alameda cercada de árvores e placas com partes de poemas de Carlos Drumond de Andrade.

Chegamos ao velório três. Um grupo de pessoas, não mais de vinte, reunidas em torno do esquife, ouvia atentamente, alguém que com uma bíblia aberta nas mãos, falava. O ambiente era simplesmente leve, intimista. Aquele que falava, entre muitas outras coisas, disse que D. Antônia já não sabia quem eram os filhos, os netos, ou qualquer outra pessoa. Não sabia sequer quem ela era. Mas que, o mais importante, era que, quem com ela convivia, sabia bem o seu valor. Falou do carinho com que foi cuidada pela filha Jane.

Uma emoção ainda desconhecida, ou talvez reprimida, começou a se apoderar do meu coração.
A palavra foi dada a outro, cujas primeiras frases foram de confissão. Disse que enquanto ouvia seu antecedente fazia uma reflexão sobre a própria história. Contou um pouco dela. Mais especificamente seu ponto de virada... Era sábado, 02 de novembro de 1974, dia dos mortos. Ele estava morrendo de overdose, aos 19 anos, em uma das praças da cidade de Belo Horizonte. Deitado na sarjeta, no auge de sua crise, lembrou-se dos muitos folhetos com mensagens bíblicas que havia recebido de algumas pessoas, acompanhados de palavras como: “Jesus te ama e pode transformar sua vida pra melhor”. Naqueles momentos de angústia diante da morte, no dia dos mortos, fez uma  oração:

-- “Deus, por favor, não me deixe morrer, pois se eu morrer agora irei pro inferno”.

Recuperado da crise foi para casa e do fundo da gaveta recuperou os folhetos ali guardados. Leu tudo. No dia seguinte, manhã de domingo, aprontou-se e saiu rumo a uma igreja. Ao entrar, o Coro da mesma estava à frente cantando. Extasiado com a beleza o jovem só pôde exclamar:

-- “Deus, por que o Senhor não me salvou há mais tempo”?

O filho José, usando de empréstimo a Bengala de Jane, foi à frente e falou palavras bonitas sobre a mãe, incluindo a primeira e a última frase do poema que lhe fizera no último aniversário. Pena que pela falta de memória não posso compartilhá-las.

Uma jovem bonita iniciou uma música, com a introdução de que D. Antônia dela muita gostava. Cantou suave a primeira estrofe, mas na segunda a emoção tomou conta do lugar e a jovem, sem voz, somente chorava seu choro silencioso. Nesse momento os funcionários do cemitério chegaram para levar o corpo. Eliseu um dos netos sugeriu:

-- Vamos fazer a última oração e encerrar.

Com voz recuperada, a jovem recomeçou o canto . No fim dele, Eliseu, convidou aos presentes que dessem as mãos uns aos outros e orou, As lágrimas rolaram pelas faces, inclusive pelas minhas.


É difícil acreditar, mas participar do velório de D. Antônia foi um dos melhores presentes que já ganhei na vida. 

9/16/2014

O sotaque das mineiras . Carlos Drummond de Andrade

Recebi por e-mail o texto do Carlos Drumond de Andrade falando dos sotaques,  ele diz das mineiras, acho que fazendo uma média conosco, mulheres mineiras. Mas esse lindo sotaque é de todos os que vivem entre as montanhas de Minas. 

Então pra você dar umas boas risadas.... aí vai! 
Tenho de confessar... chorei de rir.

"O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar lindo (das mineiras) ficou de fora?
Porque, Deus, que sotaque!
Mineira deveria nascer com tarja preta avisando:
ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso?
Assino achando que ela me faz um favor.
Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.
Preferem abandoná-las no meio do caminho, não dizem:
pode parar, dizem: 'pó parar'.
Não dizem: onde eu estou?, dizem: 'ôncôtô'.
Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem linguisticamente falando, apenas de uais, trens e sôs.
Digo-lhes que não.
Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade.
Fala que ele é bom de serviço.
Pouco importa que seja um juiz ou jogador de futebol.
Mineiras não usam o famosíssimo 'tudo bem'.
Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra:
- 'Cê tá boa?'.
Para mim, isso é pleonasmo.
Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário.
Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada.
Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer:
- 'Mexe' com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc.).
O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados..
Quer dizer, por exemplo, trabalhar.
Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido.
Querem saber o seu ofício.
Os mineiros também não gostam do verbo conseguir.
Aqui ninguém consegue nada.
Você não dá conta.
'Sôcê' (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz:
- 'Aqui', não vou dar conta de chegar na hora, não, 'sô'.
Esse 'aqui' é outro que só tem aqui.
É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase.
É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção.
É uma forma de dizer:
- Olá, me escutem, por favor.
É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.
Mineiras também não dizem apaixonada por.
Dizem, sabe-se lá por que, 'apaixonada com'.
Soa engraçado aos ouvidos forasteiros.
Ouve-se a toda hora:
- Ah, eu apaixonei 'com' ele...
Ou: Sou doida 'com' ele (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro).
Elas vivem apaixonadas com alguma coisa.
Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe.
É um tal de 'bonitim', 'fechadim', e por aí vai.
Já me acostumei a ouvir:
- E aí, 'vão?'. Traduzo:
- E aí, vamos?
Não caia na besteira de esperar um 'vamos' completo de uma mineira.
Não ouvirá nunca.
Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira.
Nada pessoal.
Aqui certas regras não entram.
São barradas pelas montanhas.
Por exemplo, em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer:
- Eu preciso 'de' ir.
Onde os mineiros arrumaram esse 'de', aí no meio, é uma boa pergunta.
Só não me perguntem. Mas que ele existe, existe.
Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório. Deixa eu repetir, porque é importante.
Aqui em Minas ninguém precisa ir a lugar nenhum.
Entendam...
Você não precisa ir, você precisa 'de' ir.
Você não precisa viajar, você precisa 'de' viajar.
Se você chamar sua filha para acompanhá-la ao supermercado, ela reclamará:
- Ah, mãe, eu preciso 'de' ir?
No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um 'tanto de coisa'.
O supermercado não estará lotado, ele terá um 'tanto de gente'.
Se a fila do caixa não anda, é porque está 'agarrando' lá na frente.
Entendeu?
Agarrar é agarrar, ora!
Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena,  suspirará:
- 'Ai, gente, que dó'.
É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras.
Não vem 'caçar confusão' pro meu lado.
Porque devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro 'caça confusão'.
Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele 'vive caçando confusão'.
Para uma mineira falar que algo é muitíssimo bom vai dizer:
- 'Ô, é sem noção'.
Entendeu?
É 'sem noção!
' Só não esqueça, por favor, o 'Ô' no começo, porque sem ele não dá para dar noção do tanto que algo é sem noção,
entendeu?
Capaz...
Se você propõe algo ela diz:
- 'Capaz'!!!
Vocês já ouviram esse 'capaz'?
É lindo.
Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer 'ce acha que eu faço isso!?'
Com algumas toneladas de ironia...
Se você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá:
-'Ô dó dôcê'.
Entendeu?
Não?
Deixa para lá.
É parecido com o 'nem...'.
Já ouviu o 'nem...?
' Completo ele fica:
- Ah, 'nem'...
O que significa?
Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum.
Você diz:
- Meu amor, 'cê' anima 'de' comer um tropeiro no Mineirão?
Resposta:
- 'Nem...'.
Ainda não entendeu?
Uai, nem é nem.
A propósito, um mineiro não pergunta:
- Você não vai?
A pergunta, mineiramente falando, seria:
- 'Cê' não anima 'de' ir?
Tão simples.
O resto do Brasil complica tudo.
É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem...
Falando em 'ei...'.
As mineiras falam assim, usando, curiosamente, o 'ei' no lugar do 'oi'.
Você liga, e elas atendem lindamente:
- 'Eiiii!!!', com muitos pontos de exclamação, a depender da saudade...
Tem tantos outros...
O plural, então, é um problema.
Um lindo problema, mas um problema.
Sou, não nego, suspeito.
Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.
Aliás, deslizes nada.
Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão.
Se você, em conversa, falar:
- Ah, fui lá comprar umas coisas...
- 'Que' s coisa?' - ela retrucará.
O plural dá um pulo.
Sai das coisas e vai para o que.
Ouvi de uma menina culta um 'pelas metade', no lugar de 'pela metade'.
E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa,confidenciará:
- Ele pôs a culpa 'ni mim'.
A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas.
Ontem, uma senhora docemente me consolou:
'preocupa não, bobo!'.
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se espantam.
Talvez se espantassem se ouvissem um: 'não se preocupe', ou algo assim.
A fórmula mineira é sintética.
E diz tudo.
Até o tchau, em Minas, é personalizado.
Ninguém diz tchau pura e simplesmente.
Aqui se diz: 'tchau pro cê', 'tchau pro cês'.
É útil deixar claro o destinatário do tchau.
Trem bão também demais sô...."

9/06/2014

Tomando meu remédio 11 - A quarta semana




Estou fechando a quarta semana de compromisso comigo mesma de caminhar e escrever. Quem está acompanhando esta série de crônicas chamada “Tomando meu remédio”, sabe do que estou falando. Para quem não sabe, terei prazer em explicar. O fato é que por uma questão de saúde fui obrigada a mudar de atitude e  iniciar o hábito de caminhar ao sol. Isso devido a alta de glicose e baixa de vitamina D no meu corpo. Querendo dar um sentido a mais a essa atividade iniciei o registro de fatos interessantes observados no período das minhas caminhadas.

Tenho de admitir os vários benefícios experimentados nessas quatro semanas:
Pude ver coisas lindas como um velhinho regando um canteiro de flores em uma  esquina e uma jovem mãe ensinando a filhinha a atravessar a rua. Achei sua  lição um tanto dura, quando a ouvi perguntar pra filha:
-- você quer morrer esmagada por um carro?
E como a menina,  calada olhava assustada pra a mãe, a mesma repetiu:
-- me responda! Você quer?
A criança, com cara de choro respondeu:
--Nãooooo.
E nesse momento a mãe toda orgulhosa deu a lição final:
-- Então só atravesse a rua quando o bonequinho estiver verde.

Vi um idoso de 77 anos dar entrevista a um grupo  de estudantes no Parque Municipal, e depois pude acompanhá-lo na leitura de seu livro grosso e antigo, todos dias no mesmo banco, fazendo suas anotações com uma caneta azul nas bordas do mesmo. Pude conjecturar quanta sabedoria escondida naquela cabeça e oque acontecerá com aquele livro quando  o velhinho se for. Muitos familiares doam bibliotecas inteiras de velhinhos sabidos sem sequer folhear seus livros e ler suas anotações. Espero que isso não aconteça com os seus livros.
Vi mendigos cuidando dos seus cachorros com muito carinho. Vi moças, rapazes, homens e mulheres passeando com seus cães e esperando pacientemente que marcassem o território com suas mijadinhas em cada poste.

Também pude apreciar os cheiros da cidade. No parque pude sentir o cheiro de suas flores,  de sua grama molhada, das águas do lago dos barcos e nas ruas pude sentir o cheiro  de tempero vindo das cozinhas das casas.

Mas também vi coisas não tão  lindas e senti cheiros não tão bons. Vi um grupo de mendigos com seus rostos inchados  deitados na calçada da rua da Bahia e senti o cheiro de aguardente vindo de suas garrafas. Senti o cheiro fétido de urina humana nas pilastras dos viadutos. Vi jovens encostados em muros, fumando, e senti o cheiro de seus baseados.

Foram quatro semanas de aprendizado, de novas experiências de vida pulsando dentro e fora de mim. Além de tudo isso,  pude sentir meu corpo mais leve e mais fino, podendo com alegria resgatar novamente para o armário, peças de roupas, que por estarem apertadas foram guardadas e que por muito amá-las  não tive  coragem de coloca-las nas sacolas de doações.


Por todos esses fatos vistos e esses cheiros sentidos, celebro com alegria o fechamento das primeiras quatro semanas da minha nova experiência em viver melhor.

9/03/2014

Tomando meu remédio 10 - Vai uma balinha aí?


Geralmente quem nasce e cresce em  Minas Gerais pega o costume de usar as palavras no diminutivo, e ainda omitindo letras no final. Assim temos a mania de nos referir a algo que seja pouco, de pouquim, que seja pequeno, de pequeninim e assim vai.

Pois bem, estava eu em fim de caminhada, aquela que estou aprendendo a fazer todos os dias por recomendações médicas. Passava pelo calçadão da Sapucaí, que não é a Marquês de Sapucaí do Rio,  mas a Sapucaí de Belo Horizonte. Bem perto da escada que desce para a estação Central Ferroviária estava uma mulher com uma caixinha de bala halls. Ao me avistar pegou um dos pacotinhos, o preto, o mais forte, me perguntando:
-- Vai uma balinha aí querida?
--Obrigada! Hoje não. – Doida pra comer uma bala apesar da glicose alterada.
Parecendo ler meu desejo pelo olhar a moça insistiu:
--É só um realzim minha boneca!

Continuei a caminhada um pouco mais feliz, rindo sozinha pela calçada.
Um real é sempre um real. Não existe um real menor ou maior do que outro. Mas o mineiro tem que diminuir o "um real". Como também diminui o minuto. E cá prá nós, quando alguém diminui os minutos pode esperar que na realidade serão aumentados. Outro dia levei um serviço na gráfica e a atendente após examinar o material me disse:
-- fica pronto em 20 minutinhos.
Sabendo que vinte minutinhos de mineiro se esticam em mais trinta, saí para dar uma volta. Retornei à gráfica em 40 minutos e o serviço ainda não estava pronto.

Para quem não é mineiro fique atento com os minutinhos. Pois eles nos fazem esperar muito.



8/30/2014

Tomando meu remédio 9 - Quando as palavras não significam o que representam



        Na minha caminhada diária, que aconselhada pela endocrinologista, chamo de “meu remédio”, estava eu no calçadão da Avenida Afonso Pena. Quando de repente uma moradora de rua veio em minha direção e disse:
- Bom dia!
- Bom dia! -Parei e respondi.
Ao que a moça, estendendo seu braço direito num gesto de me empurrar para o lado, só não o fez porque saí do seu caminho, disse:
- Não é com ocê.- E passou por mim apressadamente.
Olhei para trás e ela estava pedindo dinheiro a uma senhora, logo atrás de mim, arrumada e com sua bolsa tiracolo.  Também, pudera, eu estava com roupa de caminhar, com apenas uma chave na mão.

Fiquei toda sem graça e continuei meu caminho, pensando no significado das palavras e frases. Nem sempre a frase “bom dia” representa o desejo do outro que seu dia seja bom. Em algumas lojas, por exemplo, quando pomos os pés na porta, um vendedor ou vendedora nos diz em voz alta: “bom dia”. Mas esse “bom dia” serve apenas  para marcar sua vez no atendimento aos clientes, que é feito por rodizio entre os vendedores.


Durante a caminhada no Parque Municipal vejo alguns  caminhantes desejarem “bom dia”. 

Agora me pego olhando para trás antes de responder, para me certificar se o “bom dia” é mesmo dirigido a mim. 

8/28/2014

Tomando meu remédio 8 - O motoqueiro da rua Maranhão.

      Mais uma manhã de caminhada. Depois de circular o lago dos barcos no Parque Municipal de Belo Horizonte, que fica no centro da cidade, estava eu na Rua Pouso Alegre. De repente um motoqueiro parou ao meu lado, tirando o celular do bolso.
__ Alô! __ atendeu ao telefone.
__ Eu tô na Rua Maranhão, na Santa Efigênia.
Assustada,  olhei para um lado e depois para outro, como o caipira da piada, perdido no centro da cidade grande que exclama:
__ Onque eu tô. Donque eu vim. Pronque eu vô. Quem que eu sô!  - tô na Maranhão ou na Pouso Alegre?

Então fiquei me lembrando, pelo resto do caminho até em casa, de vários episódios em que vi alguém mentir descadaramente. Um deles foi quando minha família estava vendendo um apartamento. A corretora levou uma pessoa interessada. Após mostrar todos os cômodos, ao se despedir disse-me:
__ Amanhã depois do almoço vou trazer outra pessoa interessada.
Cancelei meu compromisso e fiquei a espera... Dias se passaram. Então a corretora ligou para agendar outra visita e eu logo disse:
__ Escuta, você falou que traria uma cliente, cancelei meu compromisso e você não veio.
Foi aí que ela quis me dar uma lição de vida.
- Você não entende! Eu falei aquilo só pra cliente ver que tem mais gente interessada no apartamento.
Oh! Por que ela foi fazer aquilo! Eu fiquei muito brava com ela.
Outro episódio foi no Parque Municipal. Estava passando e sem querer, ouvi a conversa de um senhor que estava sentado em um dos bancos tomando sol. Ao telefone ele disse a seguintes frase:
__ Ó, eu só vou poder fazer seu serviço à tarde, porque agora eu tô aqui em Betim resolvendo umas coisas.
Eu pensei:
- Que descarado! Ele está tomando sol no Parque!
A mentira está mesmo muito presente. Até mesmo em alguns estabelecimentos,  com lanchonetes e restaurantes. Em alguns deles  quando os clientes pedem nota do que gastaram para apresentarem às suas empresas eles tem coragem de perguntar:
- De quanto quer a nota?

Na verdade a corrupção está solta. Aqui, lá, em todo lugar.

8/27/2014

Tomando meu remédio 7 - Os mendigos e seus cães




Já ouvi dizer que os cães se apegam aos seus donos, e os gatos se apegam às suas casas.  Deve ser por isso que existe o ditado: “o cachorro é o melhor amigo do homem”. Se verdade ou não, nunca vi gatos nas cabanas que os moradores de rua armam nas calcadas das cidades, mas já vi muitos cães que os acompanham. E por causa deles enfrentam situações complicadas.

Tive um vizinho, morador de rua, que armou sua barraca de lona em um lote vago ao lado de minha moradia. E por várias madrugadas pudemos ouvir seus gritos chamando por seu cachorro:

__ Totó! Ô Totó! Vem cá.

Fato que muito me surpreendeu foi o que ocorreu em um fim de tarde, quando ouvi conversas estressadas vindas do tal lote. Ao chegar à janela vi uma cena interessante. Umas dez pessoas entre homens e mulheres, todos jovens, gritando com o morador do barraco, palavras acusatórias de que ele estava maltratando o cachorro. Que se ele não parasse de bater no cãozinho, iam denunciá-lo por maus-tratos.  Quanto mais o rapaz tentava explicar que não batia no cachorro mais os jovens se alteravam.

Fiquei parada, olhando a cena, quando três dos homens pularam em cima do rapaz, dando-lhes socos e um empurrão no peito, jogando-o com as costas no chão. Preparei-me para chamar a  polícia. Vendo que ficaram  calmos, desisti.


Veja só o contrassenso! Suponhamos que o cara tenha batido no cachorro. Mas isso justifica três homens bater nesse cara? Não estaria a preocupação exagerada com os direitos e proteção do animal, fazendo-os desrespeitar os direitos do ser humano?

8/25/2014

Relembranças 2 - Essas mulheres maravilhosas e seus PEITOS ENORMES



Quando em crescimento e aonde cresci as mulheres mães de bebês amamentavam-nos em público, sem sequer jogar uma toalhinha ou fralda sobre seu peito. Aquele era um momento sublime, quase um ritual, quando enfiavam a mão sob o decote, deslizando-a sobre o peito e ao chegar na parte inferior do mesmo o levantava. E com a ajuda da outra mão que puxava a roupa, colocava a mostra aquele peito recheado de leite.  Nas igrejas durante as missas ou cultos podia-se ver o desfile de mães orando, cantado e amamentando... Eram  Peitos marrons, pretos e brancos. Os que  eram brancos ficavam até rosados, exibindo veias entrelaçadas no seu contorno arredondado daquilo que era uma maravilha pra mãe e pra filho.

O ato da amamentação no peito era comum e natural. As meninas brincavam de casinha e em suas casinhas serviam umas as outras, café, comida e também imitavam as mulheres mães amamentadoras, colocando ao peito ainda não desenvolvido, futuro armazenamento de leite, suas bonecas, de pano, de sabugo de milho, de porcelana, de papelão.

Os peitos de uma mulher amamentadora eram vistos de uma forma diferente. Eram envolvidos em um simbolismo e um significado, que  pouco a pouco foi sendo modificado. E um dia, quando eu já não estava mais lá, soube de um fato ocorrido em uma das igrejas da cidade. Uma religiosa saída de Salvador ao chegar à cidade, em um dos cultos de sua igreja  teve a infeliz iniciativa de se levantar de seu lugar caminhar entre os bancos e colocar um lenço sobre o peito de uma jovem mãe que amamentava seu bebê. O triste é que  ela nunca mais voltou a igreja. O mais triste é que a comunidade não se pronunciou e o puritanismo farisaico (se é que existe isso) venceu.
O tempo passou e me tornei mãe. Experimentei o que existe de mais emocionante no mundo: tirar o peito, lindo redondo e enorme; expô-lo ao mundo e coloca-lo na boca do bebê... Pouco a pouco sentir o leite correr pelos canais e explodir, às vezes com tanta força que a cara do bichinho ficava toda molhada. Nesse momento a boca secava e eu precisava desesperadamente de um copo d’água. Somado a  esse prazer estava o fato de ver dia a dia a criança se desenvolvendo com o alimento saído do meu corpo. Era um mistério e um milagre.

Muitos homens e mulheres viram meus peitos e nunca me preocupei se estava por perto algum “tarado”. Porque amamentar em público, mostrando o peito, era algo cultural pra mim. Parece que o contrário acontece nas capitais, pois nunca vi na capital onde fui mãe e até hoje moro, uma mulher tirar o peito e amamentar em publico. Mas já vi muitas saírem com o bebê aos gritos e se esconderem em alguma sala para amamentar. As mais ousadas tiram o peito por baixo da blusa e não pelo decote. Para mamar, o bichinho tem que aguentar uma roupa incomodando seu rosto o tempo todo.

Como mulher e como mãe  acho que mães e bebês devem ter a liberdade de exibirem seus peitos: elas porque são a fonte do melhor alimento do mundo. Eles por tê-los como sua propriedade, nesse período de suas vidas e pelo privilégio de terem nascido de uma mãe saudável física e emocionalmente.

8/22/2014

Relembranças 1 - A moça de Mutum e o cowboy de Aimorés



Era tarde de sábado na cidade de Aimorés estado de Minas Gerais. Um sábado qualquer, de um mês qualquer, de um ano triste. Todos os sábados pareciam iguais. Ela saía de Resplendor, no trem Rápido, descia em Aimorés e tomava um ônibus para Mutum. Na segunda-feira fazia o caminho inverso. Em Resplendor, cuidava da mãe doente, estudava as matérias do seu curso à distância, chorava seu amor perdido. Tudo isso fazia daquele ano, um ano triste.

Apesar de todos os seus sábados parecerem iguais, aquele foi diferente. Ao chegar à estação ferroviária em Aimorés, atravessou a praça central até o bar  que era uma espécie de rodoviária. Chegou a cara no buraco do vidro e pediu:
- Uma pra Mutum.

Olhou o papel colado no vidro, descobrindo o aumento da passagem ocorrido naquela semana. Pediu que a moça esperasse um pouco antes de destacar a passagem. Conferiu seu dinheiro. Ele não dava para a viagem.

Saiu do local cabisbaixa e atravessou novamente a praça, como se estivesse carregando sobre os ombros a tristeza de todos os habitantes da terra. Não tinha ideia do que fazer! Sentou-se em um dos bancos. Revirou a bolsa mais uma vez na esperança de achar algum dinheiro solto em algum compartimento da mesma. Tempo perdido, não encontrou nada. 

Contou novamente as cédulas e as moedas. Nenhuma delas havia dado cria. Colocou-as no bolso do jeans desbotado.

Caminhou até a estação, à procura de alguém conhecido que pudesse lhe socorrer. A estação estava deserta. Voltou à praça, sentando novamente no mesmo banco. Seus pensamentos giravam desconexos. A única coisa sóbria que lhe vinha a mente era a frase:

- Deus mande alguém pra me socorrer! Tem que ser agora Deus, porque senão o ônibus parte.

Com a cabeça  baixa e as mãos na testa ali ficou à espera do milagre. Foi quando viu um par de botas em pé à sua frente. Seus olhos ficaram fixos. Depois pouco a pouco foi vendo parte a parte aquela figura impoluta. Primeiro a calça jeans Lewis. Depois, a fivela grande e prateada do cinto com a figura de um cavalo.  Viu a camisa xadrez de vermelho, o rosto másculo e bonito emoldurado com um chapéu de couro. Parecia a perfeição em forma de homem. 

Com voz mansa lhe falou.
- Posso me sentar?
- Oh sim! Claro! – Respondeu a moça no grau extremo de sua timidez.

A conversa foi iniciada. Ele falou de música, de rádio. Era de Belo Horizonte, mas estava em Aimorés, trabalhando na rádio e cantando música sertaneja.

- E você, o que faz aqui? – perguntou com ar simpático.
A moça iniciou sua história recente. Após contar seu drama, ele abriu a carteira retirou uma cédula e lhe estendeu:
- Vá lá e compre sua passagem.

Ela saiu apressada rumo ao guichê. Não antes, de fazê-lo prometer que a esperaria ali para receber o troco.

Ao voltar o banco estava vazio. Ele havia sumido. Olhou por todos os lados, mas não o encontrou. Nem pôde agradecê-lo!

Mais de trinta anos são passados. E eu, a moça de Mutum agradeço sempre a Deus a sua vida  e minha prece nesse tempo todo é a mesma:


- Deus, se ele ainda estiver vivo, estende tuas mãos de bondade e misericórdia sobre ele, o anjo cowboy, que o Senhor usou para me socorrer, naquele sábado triste em Aimorés.


8/19/2014

Tomando meu remédio 6 - Anúncio na faixa

Na volta para casa, da caminhada de mais uma manhã, mudei de rumo na esperança de encontrar material para mais um crônica. Depois de subir a ladeira, redundância para quem mora em Belo Horizonte que, segundo uma paulista, aqui a gente não anda   sobe e desce morro, virei à esquerda e lá estava o que precisava: uma faixa anunciado  um curso de reciclagem.  

Pus-me imediatamente a pensar no assunto. Como é sabido, reciclagem é o processo de transformação de materiais usados, em novos produtos com vista à reutilização. É um termo que tem sido cada vez mais utilizado como alerta  para a importância da preservação dos recursos naturais e do meio ambiente.

Vendo melhor a placa pude identificar, para qual material era o tal curso. Reciclagem de condutor...

Para essa última palavra me veio a mente condutor elétrico, descobrindo em seguida que não se tratava desse tipo de condutor, mas sim de condutor infrator.




Alguns condutores infratores certamente são possíveis de serem reciclados, para preservação de suas vidas e daqueles que se põem em seus caminhos. Mas alguns outros só mesmo levando para o aterro sanitário.

8/18/2014

Tomando meu remédio 5 - Todas as velhinhas merecem ser elegantes




Dá gosto ver uma velhinha elegante. D. Sinhá, por exemplo, é lindamente elegante. Aos 100 anos exibia simpatia e cordialidade. Passou horas da sua festa sentada para ser fotografada com quem desejasse. Deu entrevista à rádio Itatiaia e ganhou de presente uma visita à cidade do Galo - Clube Atlético Mineiro, time do coração, com direito a foto com os jogadores e matéria no Estado de Minas.




Hoje com 103 anos se recupera  de mais uma fratura fruto de mais uma queda. Mas não é que a danadinha já esta ficando em pé sozinha e outro dia deu 5 passos? Além de elegante tem uma facilidade e se recuperar que é incrível. Gosto de ser sua amiga e usufruir de seu senso de humor e otimismo.





Mas existem aquelas mulheres que, infelizmente, com a chegada da idade, chega também uma espécie de síndrome do “qualquer coisa tá bom”. Então, se tinham os cabelos pintados começam a deixar aquelas raízes brancas horríveis. E como se não bastasse começam a calçar meia fina tamanho ¾ com saia. Aquelas que enquanto se está em pé, está elegante, mas basta sentar-se que a saia sobe e os olhos da gente caem sobre aquela coisa feia. Todas as vezes que vejo uma cena dessas falo em silêncio pra mim mesma:
__Se Deus me der vida até ficar velhinha nunca vou usar meia fina ¾ com saia.

Mas hoje o inacreditável aconteceu. Vi uma velhinha linda com cabelos de neve, roupa apresentável em tons pastéis. Mas lá estava a meia. Não! Não era a meia fina. Era pior que isso! Era uma meia social masculina na cor marrom.
Diante de tal cena a única coisa que pude dizer a mim mesma foi:

__ Todas as velhinhas merecem ser elegantes. 

Mas, infelizmente poucas conseguem.