
O jovem casal, Otávio e Ermita, mais conhecida como Nega, esperava a chegada do bebê. Eles ainda não sabiam, mas era uma menina. E sendo menina recebeu o nome bíblico Marta. Otávio e Nega moravam em uma fazenda em Humaitá, interior de Minas Gerais e eram pessoas preocupadas com a salvação dos seus amigos, por isso não perdiam nenhuma oportunidade de lhes falar do amor de Deus.
Os nove meses se passaram e o grande dia chegou: seis de Abril de mil novecentos e trinta e nove. Todos ficaram encantados com a menininha. Ela era linda!
Marta cresceu simples, humilde, obediente a seus pais e temente a Deus. Era menina esperta e inteligente. Com três anos de idade já sabia as letras do alfabeto ensinadas por sua mãe. Além de ensiná-Ia a ler em casa, a jovem mãe ensinou-lhe também a oração do Pai Nosso e uma outra, bem pequena para ser dirigida a Deus antes de dormir. Todos os dias ao deitar, a menina orava assim: Amém”!
Marta não só orava em casa no culto doméstico, na hora de comer e dormir. Ela também, com quatro anos, já cantava corinhos nos cultos que aconteciam na congregação construída no terreno da fazenda. Com seis anos entendeu que precisava ser salva e aceitou a Jesus como seu Salvador e aos sete foi batizada no rio que passava perto de sua casa. Muitos achavam que ela não sabia o que estava fazendo. Mas ela provou a todos que sabia sim! Na sua profissão de fé respondeu todas as perguntas feitas pelo pastor, reafirmando que já havia aceitado a Jesus como seu Salvador. Assim sendo, no dia cinco de outubro de mil novecentos e quarenta e seis a pequena menina de sete anos descia às águas do batismo, para testemunho e cumprimento da ordem de Cristo. Foi eleita, no ano seguinte, professora de crianças na Escola Bíblica Dominical e presidente da então Sociedade de Crianças, hoje, Amigos de Missões, organização missionária da União Feminina Missionária Batista. Como era muito pequena, uma cadeira era colocada atrás da mesa onde a menina subia para dirigir as reuniões.
Mas a vida da menina Marta não foi só alegria não! Pelo menos em duas ocasiões passou por momentos de profunda dor e tristeza. A primeira ocasião foi aos oito anos. Era costume na fazenda o uso de vassouras cortadas de uma planta específica para a limpeza da casa e do quintal. Marta foi até ao pasto cortar uma dessas vassouras para sua mãe. Quando de repente, sentiu uma dor intensa no seu pé direito. Imediatamente saiu correndo para ver o que era. O sangue escorria, a dor apertava, a visão escurecia. Não havia dúvida, era mordida de cobra. Foram dias difíceis não só para Marta, mas também para seus pais, tios e avós. Naquela época não existia, por lá, remédio de farmácia que curasse veneno de cobra. Mas Deus em sua infinita generosidade trouxe a cura através dos remédios caseiros preparados com cuidado e sabedoria pela família. A segunda ocasião de sofrimento na vida de Marta foi logo após sua melhora da mordida da cobra. Seu avô Diógenes era caçador de paca, possuindo oito cães bem treinados. Um dia a menina foi até a casa do avô levar um recado de seu pai. Na sua ingenuidade chegou sem dar sinal e foi atacada pelos cães. Caída no chão levou uma mordida profunda na perna. O sangue jorrava, a menina gritava e os cães agiam como se ela fosse uma presa. Iniciava um novo processo de cura. Sua mãe colocou todo tipo de remédio caseiro que as pessoas ensinaram. A menina quase morreu. Mas Deus novamente foi generoso com ela. Depois de muita luta e medo ela ficou boa.
A vida de Marta na fazenda, tirando as mordidas que levou, era maravilhosa. Havia espaço para brincar e fartura. Uma parte do terreno era ocupada por pastos para gado de corte e vacas leiteiras. Outra parte era ocupada pelas lavouras de café, arroz, milho, feijão e cana, para produção de rapadura. O restante era ocupado por uma mata para proteção da água. Marta participava ativamente das tarefas diárias. No tempo da moagem da cana, tocava os bois no engenho e nas outras ocasiões ajudava a levar a comida para os trabalhadores na roça.
Aos doze anos foi colocada em um curso para aprender a costurar. A alegria da menina era visível e ela começou a fazer todos os tipos de vestimentas. O rumo de sua vida estava mudando e em breve mudaria ainda mais. Seu pai queria que estudasse. Sendo assim, saiu da fazenda e foi morar na casa de uma tia, irmã de sua mãe em Aimorés. Lá foi matriculada na então terceira série no Colégio Pan-Americano. Foi um ano difícil. Sem ter freqüentado nenhuma escola, o que havia aprendido com sua mãe não lhe dava base para aquisição de novos conhecimentos. Além disso, sua tia era muito brava o que a impedia de dedicar-se aos estudos como deveria. Mesmo assim foi vitoriosa. No final do ano foi aprovada com a nota mínima.
No ano seguinte Marta foi morar em casa de outra tia, desta vez irmã de seu pai, que muito contribuiu para seu rendimento escolar. De aluna mais atrasada passou a mais adiantada da sala, não passando mais nenhuma vergonha por causa de notas baixas.
Surpresas maiores estavam por vir. Existia na época um concurso no colégio para escolha da rainha dos estudantes. Fazia-se uma seleção de três meninas e ganhava quem vendesse mais votos. Era o ano de mil novecentos e cinqüenta e cinco. Marta e mais duas colegas foram escolhidas como candidatas. O resultado da apuração dos votos era dado em um programa da rádio Aimorés. A expectativa era grande. Após o encerramento da campanha e contagem dos votos, o pai de uma das suas colegas inconformado com a derrota de sua filha fez uma proposta desonesta ao diretor do colégio: daria mais quinhentos cruzeiros, moeda da época, para que sua filha fossa a rainha daquele ano. Mas o diretor agiu com honestidade, não aceitou o suborno.
O dia do resultado chegou. Marta sentia o coração apertado. Ligou o rádio. O locutor com sua voz impostada começava a dar a notícia: “E agora vejamos o resultado do concurso de rainha dos estudantes do Colégio Pan-Americano... saiu com a vitória... a aluna... Marta Maria de Jesus.
A menina caiu de joelhos em agradecimento a Deus por tamanha alegria Agora era só se preparar para a festa de coroação, que aconteceu no dia seis de dezembro de mil novecentos e cinqüenta e cinco. Marta parecia uma estrela entre as duas princesas, com sua faixa de letras douradas e seu lindo relógio de ouro, prêmio pela vitória. Aquela foi a festa mais maravilhosa de toda sua vida. Ela estava linda! No Seu rosto refletia a alegria e a gratidão a Deus que emanava do seu interior, porque “o coração alegre aformoseia o rosto”.
Aos dezenove anos Marta se casou. Teve seis filhos saudáveis. Foi professora até sua aposentadoria, exercendo também o silencioso ministério da intercessão.

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